3 de maio de 2024
Memória

QUERIDO DIÁRIO NO PARAÍSO

Autorretrato com símbolos de vaidades (1651) – David Bailly – Museu de Lakenhal, Leiden, Países Baixos


O plano estratégico era seguir a sugestão
  dos  manuais de sobrevivência no bunker doméstico, enquanto ouvia-se o toque de recolher da guerra que devastava outros palcos.

Atento.

Forte.

Com muito tempo para temer a libitina.

Por que não começar um diário?

Registrar tudo que se passava pela cabeça.

E o que era  resgatado da memória.

Lembranças, faltas, desejos, convicções, ausências, medos, incertezas, mudanças.

Um dia alguém haveria de ler.

E entender.

A estratégia de começar logo cedo, mais uma vez adiada.

A vida que seguia, não dava trégua.

Nem tudo era maravilhoso.

Nem divino.

Foi quando o  post agendado de véspera, recebeu um comentário e no primeiro bom-dia, a crítica mordaz.

Hoje, fiquei na missa sem ver o padre. Não entendi nada.

O leitor da madrugada ainda lembrou que era filho de agricultor, como se um engenheiro bem sucedido não tivesse suas próprias experiências  gastronômicas.

Logo ele, caixa-alta que parece entender tudo dos brunelos, capelinhas e borgonhas.

Podia ser o mote pra lembrar outras delícias que vão ficando mais gostosas quanto mais inesquecíveis.

E de vinhos que não sabemos se terão o mesmo bouquet nos dias que virão.

Um banquete.

Lefse, moussaka, baklava, pinot noit.

A trabalheira pra explicar o que é pão, salgado, doce, líquido.

O que lembra a Noruega e a Grécia.

Ou será França, ou Turquia?

O melhor seria procurar notícia boa na caixa de e-mails.

O amigo jornalista em disponibilidade,  lembrou da matemática do ginásio em Jundiaí e mandou para os amigos e conterrâneos, os números que não ganhavam  destaque nas estatísticas do avanço da pandemia no país em vertigem.

Pelas contas de Flamínio d’Oliveira, os números eram os mesmos mostrados na TV.

Sem pessimismo nem desesperança.

De fato, esse registro negativo está correto, é real. No entanto, a reportagem  não enfocou  e omitiu a parte positiva  verificada no mesmo período, quando a média de novos contaminados e do número de óbitos caiu.

A manhã nem havia sido rendida pelo almoço, marcado para  o encontro dos ponteiros, e tantos dramas individuais invadiam a telinha, janela para o mundo, que era melhor deixar pra remexer nas emoções, depois.

Adiantado, só o título.

Meu Diário no Paraíso.

Vaidades* (1650) – David Bailly – Museu de Arte Jonhson, Universidade Cornell, Ithaca, Nova Iorque.                            * Alusão à insignificância da vida terrena e à efemeridade da vaidade

(O texto,  publicado em 20/04/2023, sofreu alterações)

 

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