REFOGADO DE LULA
Há um ano, foi registrada neste recanto de território, uma visita do político que mais votos recebeu dos potiguares em toda a história republicana.
Já havia se passado uma gestação de nove meses desde que um supremo doulo (palavra não dicionarizada, por preconceito de gênero) fez o jurídico parto em Curitiba.
Quem esperava uma reedição apoteótica das Caravanas da Cidadania, rasgando os sertões nordestinos, ficou frustrado.
Daquela vez, a lenda não procurou ir onde o povo estava.
Com programação reservada, o roteiro não permitiu aglomerações. Não se ouviram salves e vivas, muito menos gritos de protestos. Nem ovos de insultos, atirados.
Entre muitos, os escolhidos foram as elites.
Artísticas e políticas.
Faltou gente, e a emoção só desabrochou no encontro com o compositor Hilton Acioli, autor do jingle Lula lá, que marcou a campanha na eleição de 1989, e virou hino do partido:
–Se vocês começam a brincar de mexer com as minhas emoções, é possível que não tenham candidato.
Como as recomendações do Senador Pinheiro Machado ao seu cocheiro, Lula sabia que podia ter obstáculos legais no caminho, e que não era chegada ainda a hora de enfrentar multidões.
–Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo.
Era tempo de conversa.
No festival político-gastronômico de dois dias, deixou elaborado o cardápio, e escolhido os ingredientes para a eleição que parecia ainda distante.
O segredo do chef visitante para uma vitória mais tranquila, era repetir a receita de sabor agridoce.
Sacuda a militância nas suas giroflexes, misture com uma oligarquia boa de votos e peça à governadora para mexer um pouco pra direita.
Aos adversários, só restou comparar a invejada forma física do setentão – em foto de noivos apaixonados – com as pesquisas que começavam a ser divulgadas.
Nem tudo era astúcia de photoshop.