SALVE ARIANO
O que tem a ver a pandemia pela Covid-19 e as medidas adotadas para o abrandamento dos seus efeitos, com Ariano Suassuna?
Tudo.
É só imaginar o gênio da raça nordestina usando um face shield, numa entrevista a um repórter mascarado, dando seu palpite de quando Apipucos atingirá o pico da curva.
Se bem que o invasor é estrangeiro e tem direito lá ao seu nome chinês. Pelo menos, no alfabeto mandarim.
A tradução para a nomenclatura científica não teve dificuldade.
A foto 3×4 ajudou.
Ao microscópio eletrônico, as saliências na superfície, lembrando as últimas joias das coroas sobreviventes, facilitou. Do Latim, veio o nome, familiar em todo Ocidente.
Aportuguesar ainda mais seria muita discriminação com as moças-velhas. Não basta terem de revelar os segredos escondidos das idades, em números aproximados, para a classificação no grupo de risco, facilmente calculáveis.
Sem acesso à Disneylândia e às tiendas de artigos fajutos de Miami a $ 1,99, o que resta a fazer, os macaquitos.
Todos juntos trataram logo de inundar mais ainda a língua pátria de anglicismos.
Ficamos todos com aquela sensação de pertencer a um mundo que não é o nosso.
Mesmo que o mal que veio do Oriente, tenha feito todo mundo virar japonês. Ou chinês.
Uma vista d’olhos pelo matutino e a conta de uma só palavra já ultrapassava duas dúzias de vezes. No primeiro caderno.
Elocubrações quilométricas para um conceito tão fácil de ser entendido.
Palavra que recebe tradução em uma só, não carece explicações.
Pergunte a um homem do campo, um vaqueiro, o que fazer para uma vaca velha, magra e desdentada, escapar. Uma dessas, mofina, que já não consegue nem ficar em pé, sem vontade de comer, esperando os urubus anunciarem o fim.
Confinamento.
Duvido que ele receite o lockdown que seu colega de Iowa certamente recomendaria.
No tempo que se vai gastar para explicar isso ao povão, a curva já estará flattened e o outbrake ficado pra trás no nosso hot spot.
Quem sabe, já não será tempo de vacinar o rebanho humano também com vacina tríplice. Contra coronavírus, pedantismo e burrice.
Para que não surjam acusações de radicalismo linguístico, pode-se admitir um palavreado mais fácil de entender em algumas comunidades.
O decreto que trará o endurecimento das medidas mais rígidas do isolamento social, pode muito bem receber uma versão mais popular.
Um salve geral.
Só isso.
Entenderão. Tem força de lei que dispensa papel.
Sem considerandos nem resolves, estaremos todos salvos.
Free again.