SEGUNDO ROUND
A esperada vitória por nocaute, logo nos primeiros rounds, não aconteceu.
Com o passar do tempo, todos perceberam que não seria tão certo o lutador chegar ao fim do desafio, inteiraço e sob aplausos.
Nem sempre o prometido nas entrevistas que antecedem as grandes disputas é visto no quadrilátero violento, depois que soa o gongo inicial.
As regras estabelecidas precisam ser respeitadas, e não é fácil mudá-las.
A comissão que elabora as normas é formada por velhos astuciosos.
Os novos que vão chegando, se adaptam cedo e antes que se espere, estão também de boca torta, pitando o mesmo cachimbo que antes chamavam arcaico.
Alimentar o vício, conquistar a maioria e mudar os estatutos é tarefa complexa.
Às vezes é preciso agradar também quem está acostumados ao cigarro de palha e fumo de rolo.
São muitos, rostos desconhecidos, sentados juntos, no centro da arena, lá pelo fundão.
Matreiros, vão mudando das vaias aos aplausos quando percebem as tendências. Enxergam longe, têm feeling.
Sem eles, não tem jogo de pernas.
Dos árbitros, como das barrigas das groupies periguetes, nunca se sabe o que vem.
De vez em quando eles dão um apitaço que deixa qualquer um desnorteado.
Quem estava fora, derrotado, preso às cordas, desperta, ganha forças, levanta-se e começa, animado, a dar socos de novo.
Para ser um vencedor, o verdadeiro campeão precisa calçar as sapatilhas da humildade.
Reconhecer erros e omissões.
Deixando de lado, afinidades, simpatias e preferências, mexer no staff, muitas vezes, é a escolha sem alternativas.
Se alguma tática escolhida não traz o resultado esperado, resta mudar e atacar de outra forma.
Contam narradores e observam comentaristas, que bem no meio do espetáculo, com sinais de cansaço, o momento é decisivo.
É pra virar ou largar.
É tempo de lembrar que só depois de 29 anos de treinos, surgiu a oportunidade de ouro. A vez de disputar um match no ringue principal.
A princípio desacreditado, os apoios todos vindos em revide às mesmices das apresentações dos adversários.
A plateia já cansada de treze anos das mesmas pelejas e conhecidos golpes, sempre à esquerda.
Que o desafiante era rude, todos sabiam. Defeito, acreditava-se, podia ser transformado em qualidade.
As mostras de despreparo nos torneios que havia disputado antes, esquecidas com a esperança que ao ser introduzido ao palco principal, diante dos holofotes e olhos de todos, faria o combinado, justo e certo.
Depois de muito passes, arrastos e pivôs, eis que aparece, do nada, para ser enfrentada, a gripezinha que virou pandemia.
Pelo desempenho claudicante, para não ser expulso na contagem regressiva, é chegada a hora de mudar o estilo da luta.
De dizer como o professor que virou boxer:
–Esqueçam tudo que falei antes.
Agora é questão de vida, morte e sobrevivência.
Com um jab de vacina, o recomeço é promissor.
The boxer – Hyman Bloom (1935)