27 de abril de 2024
Coronavírus

UM PRÊMIO PARA OS BRAVOS

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Os jovens urologistas quando se destacam na produção acadêmica, durante a formação de pós-graduação, concorrem ao cistoscópio de ouro.

Uma láurea para a vida toda e todos os currículos.

O disputadíssimo prêmio é simbolizado pelo aparelho para exames que somente os da especialidade sabem manusear.

Na era dos dinossauros, quando em quarentena ficavam os marinheiros que transportavam, em cabotagem, as encomendas que as Vênus das beiras de cais lhes entregavam, com amor comprado, a inexistência de antibióticos exigia outros tratamentos.

Médicos que abraçaram a especialidade (no mais figurado dos sentidos táteis) há quarenta, cinquenta anos, herdaram complicações que sobreviveram aos seus mestres.

Procedimentos que fidelizavam os clientes por tantas sessões prescritas e um instrumento mágico como panaceia.

O beniquê.

Epônimo aportuguesado do francês Pierre Jules Béniqué (1806-1851) o criador de um bastão metálico, com vários calibres e formato propício para a introdução na uretra masculina.

653128A3-4AC4-4042-BDC4-EB5C86EC0E4ASem anestesia.

Sem anestesia local.

Com a convicção que aquecido, dilataria mais e depois de Pasteur, também eliminaria germes.

Virou símbolo da velhíssima guarda. E entre eles, a maneira de falar no fim da carreira. Da jubilação não alcançada pelas novas leis da previdência.

Como sói ocorrer com jogadores de futebol que depois de contusão grave ou falta de fôlego, comunicam estarem pendurando as chuteiras, os doutores das vias urinárias e afecções venéreas também sublimam o nome do indesejável ócio.

Os retirantes penduram o beniquê.

O que sempre foi  planejada com antecedência e adiada por necessidade, também cairá na conta da pandemia quando for dado balanço das perdas e ocorrências da Covid-19.

Distanciados da prática médica, isolados de suas equipes de jovens que voltarão à labuta mais cedo, os anciãos terão que prolongar o recolhimento domiciliar por muito mais tempo.

Muitos cairão.

Os sobreviventes, também.

Na compulsória.

Ensimesmados, terão muito tempo  para  ordenar as lembranças.

Em memórias, escritos, arrependimentos, sonhos, conquistas e fracassos.

E de concluir que todo médico precisa das suas armas.

Na guerra mais violenta de todas, os infantes devem ser alertados que além das armaduras de proteção individual é necessário saber usar, com segurança, um instrumento que os faça avançar na luta. E ajudar a vencê-la.

O símbolo da vitória que premiará os mais bravos de 2020 não pode ser outro.

O laringoscópio de ouro.

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2 thoughts on “UM PRÊMIO PARA OS BRAVOS

  • Marcelo Leite

    Vamos aplaudir os ganhadores.

    Resposta
    • Domicio

      Estou achando que desta vez, penduro o beniquê.

      Resposta

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