6 de maio de 2024
Memória

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA DANÇA DOS PREFEITOS DE NATAL

 

Os amplos salões, as largas portas, o assoalho de madeira corrida, a iluminação bruxuleante, são convites para pas de deux, rodopios e piruetas.

As grandes datas comemoradas com valsas e polcas.                               

Nas efemérides pelos cem anos  da independência, quando construiu o palacete de linhas coloniais, o arquiteto italiano Miguel Micussi deve ter pensado também na dança do poder.

Tempo aristocrático do engenheiro de english aplomb, em prolongamento para outro, igualmente nobre e gentil que virou praça no populoso Alecrim.

Com a ascensão do primeiro popular, de  origem oligárquica, eleito pelo voto dos alfabetizados, foi a vez dos folguedos praianos e dos baixios chegarem aos altos da cidade, para bailarem livres dos alagadiços das rocas e ribeiras.

De pé no chão, além de se ensinar a ler, também se podia dançar.

Araruna, Boi Calemba. Chegança e Pastoril.

Ao ser permitida  a escolha do ritmo por eleição da  gentinha, o sucesso foi marcado pelas paródias.

Antes do fim combinado da contradança,  uma piada de bom gosto sobre alta patente, fez o maestro perder  batutas e partituras.

No longo inverno das marionetes,  desanimação pra nunca mais voltar. Só de longe se podia ouvir o ritmo cadenciado das marchas desalmadas e das fanfarras tristes.

O estilo familiar voltaria anos depois com um aprendiz que apesar de desengonçado, rodopiou por muito tempo nos melhores bailes da república.

Já prevendo  o tempo carrancudo prestes a se dissipar,  portas reabertas para uma nova dinastia, com o novo ritmo das lambadas.

Quando a partner assumiu o comando do sarau, a plateia gostou, pediu bis e abriu pauta para ela em outro palácio ainda mais majestoso, onde, sob aplausos, voltou a abrir as cortinas da boca de cena e do sucesso eleitoral.

Seu reserva, agradou quando trouxe a animação e os bonecos do carnaval de Olinda mas não conseguiu contagiar o público do interior.

Nem a crítica musical e de tudo mais que estivesse fora da ordem, dizendo como consertar, se deu bem no ambiente sem assepsia.

Finalmente,  a vez do  reserva do reserva mostrar seu valor e o  gingado aprendido em bailes de coroas.

Com tanto xote, xaxado e baião, a plateia sempre  pede bis.

Ilustrações: J. Borges, xilografista pernambucano contemporâneo.


(Este arremedo de aula da história foi ministrado neste TL em 26/02/20)

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