27 de abril de 2024
Coronavírus

UNIVERSO EM DESATINO

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Enquanto na Sala da Justiça da Confederação das Galáxias, era instalada a primeira CII, Comissão Interplanetária de Inquérito, para apurar responsabilidades  pela pandemia universal, o planeta-pária fervia em febre de denúncias.

Presidida pelo ex-governador da província-satélite que ainda arde em brasas e deixa o resto do mundo sem oxigênio para respirar, é composta pelos mais destemidos e falantes gladiadores do espaço, muitos com o rabo preso em passadas nebulosas.

Coringa, o relator-inquisidor-mor, desde o início mostrou ser implacável.

Menos com seu meteorito e coleguinhas que não têm culpa do Conselho dos Doutores da Lei ter-lhes atribuído responsabilidades que deveriam ter sido assumidas pela principal acusada e vilã da estória,  reveladas no spoiler do parecer previamente elaborado.

A Organização Global da Doença dificilmente vai conseguir livrar-se das acusações, baseadas em sua próprias afirmações, documentos, gravações e avisos de alerta.

Demorou a reconhecer e declarar pandemia, quando a infecção já não acometia apenas alguns poucos sistemas solares da Via Láctea.

Não importa se lastreados em outros surtos de epidemias respiratórias, circunscritas a áreas bem delimitadas na transestratosferapecou por omissão.

Confiante, talvez nas últimas pequenas tragédias sanitárias, restritas a alguns buracos negros  bem delimitados, negligenciou os primeiros cuidados e provou mais uma vez o adágio que todos de Alfa-Centauro não cansam de repetir:

Quem  vê o brilho da cauda do cometa não faz ideia do seu poder de destruição.

Os saltitantes auxiliares de acusação, quais músicos de orquestra de uma nota só, já revelaram que os altos dirigentes, protegidos nos sopés dos Alpes suíços dispunham de recursos e  ainda recebiam vultosas contribuições do desvairado primo mais rico, engrossadas da generosa ajuda do ex-casal mega20 das plataformas e fortunas digitais.

O depoimento do antigo salutar ministro sem vontade de largar o osso e nem protocolo precoce, foi devastador.

Ficou provado que entrou pelo ouvido surdo e saiu pelo mouco, o pedido do pobre planetinha sul-americano que já teve sonhos de acesso a uma órbita mais nobre, que fosse declarado o alerta máximo.

A excelsa entidade que poderia ter coordenado os primeiros enfrentamentos,  acreditou em crendices, na sorte, nas mudanças das estações, na  força das temperaturas mais altas e nas distâncias medidas em oceanos.

Da chuva de asteróides virais, ninguém ficou livre.

O delírio que todos os cientistas trabalhariam juntos para conseguir um escudo protetor, panaceia comum, distribuída igualmente, sem distinções de credos, ideologias, raças e posses, foi um descomunal fiasco.

Nem a tropa de choque dos asteróides, acostumada a defender outros elementos mais brutos e opacos, consegue mostrar um só lugar do firmamento que tenha sido iluminado e salvo com suas vacinas.

Nenhum recôndito foi escolhido para demonstração do percentual de imunizados que garantiriam o retorno da trajetória serena em volta da estrela-mãe.

Foi incapaz de oferecer uma descrição clara do mapa evolutivo da doença e quais drogas, incluídas as mais baratas e acessíveis,  poderiam ser usadas nas diferentes fases.

Foi diligente somente na submissão à poderosa indústria farmacêutica e no apadrinhamento de  remédios patenteados, vendidos em quatro dígitos de dólar, a dose.

Pela configuração dos planetas e pelo andar da nave, não resta a menor dúvida que também no espaço sideral, tudo vai mesmo acabar na maior pizza das galáxias.

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