8 de maio de 2024
Memória

A HISTÓRIA DO FUTURO, NO PASSADO DO PRESENTE

Edward Jenner (1749-1823) realizando a primeira vacinação contra a varíola , em 1796 (1879) – Gaston Melingue – Academia Nacional de Medicina, Paris, França 


Sem vacinas, viroses comuns da infância.

Sem vacinas, altas taxas de mortalidade infantil.

Sem vacinas, conformação.

Sem vacina, pandemia politizada.

Quando não se tinha o que fazer, o conhecimento rudimentar das formas de transmissão e como evitá-la, garantia a aceitação da sazonalidade.

Para o preparo das inevitáveis vítimas, os investimentos eram na alimentação, emulsões e fortificantes.

Em tempos de novas doenças, vírus coroados, numerados, já no 19, olhando pela  câmera de ré, pôde-se explicar a maior polêmica de todos os tempos.

Abrir ou não abrir.

Era a questão em quarentena.

Sem vacina, estávamos de volta aos anos sessenta.

Roberto Carlos já enlouquecia a jovem guarda, o Pagador de Promessas havia ganho a palma de ouro, o Brasil era bi-campeão no futebol.

E ninguém ainda havia sido vacinado contra o sarampo.

Só depois do tri e do Dr.Sabin levantar sua taça é que começou a luta contra a paralisia infantil.

Sequelados da poliomielite, faces marcadas pela varicela,  surdos de rubéola.

Toda família tem estórias para contar.

Abortamentos naturais. Outros inocentes nascidos e logo enterrados.

Toda família tem estórias para esquecer.

A sabedoria popular prescrevia a vacinação natural.

Ao saber de portador da virose em formas brandas, o contato provocado.

E a doença, frustra.

Pegar pra nunca mais ter.

Riscos assumidos sem polêmicas.

Laboratório in vivo, ciência aprendida nos grossos livros da tradição oral.

Pesquisadores que sabiam de imunidade sem nunca ter ouvido falar de antígenos nem de anticorpos.

Experimentos randomizados. Estudos duplos e completamente cegos.

Três gerações depois,  a longa estrada nos conduziu à  mesma  antiga encruzilhada.

Levar as crianças dos anos 30, 40, 50, 60 para onde circula o vírus ou esperar que ele venha aos seus lares e abrigos geriátricos?

Olhar para um caminhão frigorífico, na porta de hospital, ser abastecido de corpos ensacados, como fosse um enterro de anjo?

Agendar todos os doentes críticos para hospitais que já vinham com overbooking, por outra doenças?

Apenas rezar para que os novos sabins descubram logo a vacina e que algum oswaldocruz abra as portas e os abraços de quem amamos e queremos bem?

Como os idosos dos anos 2090 (se é que ficarão velhos) contarão aos netos essa e as outras tragédias?

Eles saberão o que fizemos na Pandemia.

 

Primeiras vacinas (autor desconhecido)


(Com modificações e com o título “Futuro do Presente” , este texto foi publicado em 22/04/2021)

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