15 de maio de 2024
Nota

Urna Eletrônica por Bico de Pena – nem Bolsonaro

Roda Viva – Tribuna do Norte – 27/07/22

Depois de 26 anos de absoluto sucesso, uma invenção brasileira – a urna eletrônica – chamada inicialmente de “coletor eletrônico de voto” tem 66 dias, até o primeiro turno da presente campanha eleitoral, para ter o seu futuro definido e sua reputação preservada.

Sem um único caso de fraude comprovada, o sistema testado pela primeira vez em Brusque, Santa Catarina, em 1989, quando uma experiência pioneira foi realizada e a primeira votação eletrônica validada.

A urna eletrônica como se concebe hoje só foi desenvolvida em 1996 pelas empresas Unysis, Omnitech e Microbase, e utilizada pela primeira vez nas eleições municipais do ano seguinte. Seu início é de 1996, testado – e aprovado – em mais de 50 municípios em todo o Brasil.

Grupos de engenheiros e pesquisadores ligados ao CTA e INPE tiveram participação fundamental no projeto da eleição informatizada em grande escala no País. Destacam-se aí o trabalho dos engenheiros Mauro Hashioka (INPE), Paulo Nakaya (INPE), Antonio Esio Salgado (INPE), Oswaldo Catsumi (CTA), Miguel Adrian Carretero (INPE), dentre outros profissionais, pela concepção da segurança do equipamento. Sem ter aparecido um único caso, desse então, de suspeita fundamentada de fraude.

SUSPEITA DE VENCEDOR

O sistema de votação do Brasil foi questionado, de forma sistémica, por um candidato a Presidente da República (mesmo depois de tê-lo beneficiado). O presidente Jair Bolsonaro, que entrou na campanha como um “azarão” foi o primeiro a duvidar da eficiência do sistema brasileiro; depois de sua vitória inesperada.

Sem apresentar um caso concreto do sistema influenciar no resultado, Bolsonaro, ligou-se a pós campanha de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, e incorporou o discurso do atraso às suas preocupações até conseguir colocar o assunto na pauta eleitoral, culminando com a convocação, há duas semanas, de diplomatas creditados no seu Governo para denunciar ao mundo a possibilidade de fraude futura nas eleições de outubro próximo, sem receber um só depoimento com um mínimo de respeitabilidade, de apoio às suas palavras. Pelo contrário.

O comportamento do Presidente da República vem sendo interpretado (por magistrados, juristas, respeitados analistas e representantes da sociedade) como uma “ameaça à Democracia”.

UNIÃO PELA DEMOCRACIA

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, foi a primeira voz a contraditar Bolsonaro e destacar “confiança total na rigidez do processo eleitoral e na integridade dos juízes que compõem o TSE”. De acordo com a nota divulgada pela Corte, o ministro “repudiou que, há cerca de 70 dias das eleições, haja tentativa de se colocar em xeque, diante da comunidade internacional, o processo eleitoral e as urnas eletrônicas, que têm garantido a democracia brasileira nas últimas décadas”.

Entidades civis também se manifestaram. Para a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), o trabalho da Corte Eleitoral não pode ser alvo de hostilidades. Também classificou como “inadmissível” ataques pessoais a juízes. Segundo a AMB, o TSE e os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) têm independência, que garante uma eleição imune a “qualquer força contrária à segurança jurídica e ao Estado de direito”.

O governo dos Estados Unidos pode ter dado a mais contundente resposta a Bolsonaro: “Na nossa visão, as eleições no Brasil vêm sendo conduzidas pelo sistema eleitoral brasileiro, capacitado e já testado, e pelas instituições democráticas com sucesso por muitos anos, então, trata-se de um modelo para nações, não apenas para este Hemisfério, mas para o mundo”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado,

REAÇÃO DOS POLÍTICOS

Concorrentes a Bolsonaro (segundo lugar na maioria das pesquisas), na corrida eleitoral deram uma pronta resposta a dúvida do resultado da eleição e levantaram a suspeita de que ele ataca a urna eletrônica dentro de um amplo projeto de golpe de estado.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Sofia Manzano (PCB) postaram as críticas a Bolsonaro no Twitter.

Lula afirmou que Bolsonaro “conta mentiras” contra a democracia brasileira. “Depois do horrendo espetáculo promovido,  por Bolsonaro, ele não pode ser mais presidente de uma das maiores democracia do mundo”, disse Ciro. “O Brasil passa vergonha diante do mundo”, afirmou Simone Tebet.

A imprensa profissional mantém uma posição semelhante, denunciando a ação do Presidente como ameaça à Democracia enquanto as palavras de Bolsonaro repercutem nas redes sociais, em contas operadas pelo chamado escritório do ódio operado por pessoas de sua intimidade.

BICO DE PENA SEM FUTURO

No meio de tanta sandice só falta, alguém propor a volta do primeiro sistema eleitoral do Brasil, o chamado voto “bico de pena”, que foi adotado até 1930, quando foi extinto por decisão revolucionária.

O bico de pena, terceirizava o ato de votar, exercido pelo coronel (da Guarda Nacional) da cidade, patente devidamente adquirida por quem  representava em cada município um partido no dia da eleição. Ele chegava à mesa eleitoral com os títulos eleitorais e pessoalmente colocava cada voto na urna.

Nem mesmo Bolsonaro teve coragem de fazer proposta para voltar ao voto bico de pena, mas ele esquece que não está atacando apenas o sistema eleitoral. Sua campanha desmoraliza o sistema da inteligência montado desde o governo Militar, a partir do SNI, da ABIM, passando pelas forças armadas que depois de 26 anos não comprovaram uma só fraude na urna eletrônica; o que seria uma prova sem tamanho da incompetência dos sherlocks brasileiros, se tiver havido uma só fraude, por menor que fosse.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *