VOCAÇÃO DESVIADA
Festas de fim-de- ano, a melhor época para os que deixaram a terrinha natal, voltar e rever parentes e velhos amigos.
Tempo de mostrar até que ponto se progrediu na vida.
De vestir as melhores roupas e se tiver tido a sorte de chegar de carro novo (o máximo!), flanar pela cidade.
Inveja branca ou não, a oportunidade de se oferecer uma voltinha aos amigos provincianos, no possante.
Nos anos 70, ninguém falava ainda em ostentação.
As pessoas eram, apenas, amostradas.
Chegara a vez do debut do universitário do curso mais prestigiado.
De mãos dadas com a garota que também estreava no desfile na promenade da Rua Grande.
Horário estrategicamente escolhido, a saída da missa, quando as famílias faziam o footing.
Acompanhados da indefectível vela-prima, a moça de fora, mais uma novidade importada de Campina Grande.
Os olhares convergindo para a forasteira.
Entre cumprimentos e apresentações (todos querendo saber origem, família e o pedigree da encabulada fiancée) aparece uma daquelas beatas, baratas-de-igreja, ainda com o véu na cabeça.
E quase acaba com o aplomb do Dom Juan, ao revelar o segredo da sua ficha secreta:
– Pia só. N’era esse minino que ia sê pade?
(Este sacro textículo foi publicado em 24/03/2019)