CHEIRO IGUAL, SÓ TEM UM
Quando os problemas ainda estavam distantes dos órgãos de proteção ao meio ambiente, nem se temia a fatal concorrência dos chineses, os curtumes só tinham de atender às normas técnicas do Ministério do Trabalho.
A atividade, sabidamente insalubre , era vigiada de perto por fiscais que notificavam as irregularidades e davam prazos para resolvê-las.
Depois de um exaustivo esforço para cumprir as exigências da fiscalização, todos estavam confiantes que na próxima inspeção, conquistariam conceito máximo.
O presidente, CEO e dono da empresa, que dividia seu tempo entre a indústria e suas fazendas no Cariri paraibano, fez questão de estar presente quando chegassem os temíveis guardiões do bem-estar da classe operária.
Daquela vez, uma turma nova, chefiado por uma jovem senhora.
Pelo jeito, gente de fora
O chefe do clã e da empresa familiar decidiu, ele próprio, servir de cicerone no tour pelos diversos setores da fábrica.
Pensou que havia respondido a todos os questionamentos mas no final da visita, com o inconfundível sotaque melodioso de carioca, a visitante reclamou de um determinado ambiente.
Persistia o forte odor nauseabundo e para aquilo, teria de ser encontrada uma solução.
A agente do governo ficou calada – e deve ter concordado – com a explicação de quem começou na curtição mal saído da infância:
–Minha filha, catinga de couro é como a de furico. Não tem quem tire.
(Memória olfativa de episódio contado nesta curtição de Território Livre, em 11/05/2019)