VOTO CERTO, SECRETO E INAUDITÁVEL

O Auxilio Brasil, o novo nome social do Bolsa Família, mesmo aprovado à quase unanimidade pelo Congresso,  é a polêmica do momento.

Se ilegal ou imoral, não apareceu nenhum supremo juiz  para  enquadrá-lo nas restrições das leis eleitorais, nem com coragem para adiar seu pagamento para depois do dia 2 de outubro.

Prevaleceu um conceito jurídico que firmou  jurisprudência na comarca de Nova Cruz nas campanhas políticas dos anos 60, e já relatado neste território livre de repetições desinteressantes, há três anos.

Quem primeiro fez a constatação, que não há garantia do voto em troca  por alguma benesse ou compromisso, ninguém sabe.                                         

A fama ficou para o Dr. Ulysses.                                        

E também com o Dr. Tancredo.                                 

Contemporâneos e correligionários, os dois do PSD, partido que nunca foi nem será vencido.               

Ou será que  não vem de mais longe, dos tempos do Dr.Nabuco?

“Em votação secreta, dá vontade de trair.”

Há muitos anos, em votações importantes do parlamento, vira e mexe, uma outra, prévia, decide se o escrutínio será aberto ou secreto.

É que seguro não morreu tão novo e pra essa coceira, ainda não arranjaram vacina nem remédio.

Já avançando nos limites da Paraíba, caminhos de Tacima,   um professor de escola isolada rural, o mais letrado e informado da comunidade, era também das lideranças mais assediadas.

Nas mais disputadas contendas, os dois lados contavam como certo seu empenho em busca dos votos e da vitória.

Passando dos 50.

Jeitoso.

Andava em passadas macias.

Fala mansa.

Prosador.

Articulado.

De palavreado rebuscado e reboculoso .

Carregando um certo ar de mistério, perdeu a própria identidade.
O nome recebido na pia, era usado só por constar no título de eleitor.

Conhecido, mais que farinha, como Professor do Juriti.

Nunca visto sem paletó (à moda tocador de viola). Chapéu de massa, com aba quebrada na testa.                   

O inseparável guarda-chuva, sempre fechado para o sol.

Bigodinho modelo Errol Flynn, a marca registrada.

Presença que não faltava na rua, na feira semanal, às segundas.                                                      

Convidado ou não, tinha lugar cativo na mesa grande do almoço de Dona  Joanita.

Quando correu a noticia que havia tomado o outro líder popular, adversário, como padrinho de um filho, sofreu a cobrança inevitável.

E a explicação pra lá de hermenêutica.

“- Comadre, não se preocupe. Na base do concreta, digo que voto no compadre Zé Peixoto, mas na base do secreta, estou com o seu candidato, Geraldo Guerra”.

De concreto, com ou sem auxílios, o voto secreto  nunca será uma certeza.