26 de abril de 2024
Recorte de Jornal

Davos para pirralhas

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De Zueir Ventura no Globo 

Bolsonaro fez bem em não ir a Davos. Não havia lugar para ele. De um lado, Trump ocupou o espaço de líder dos negacionistas da crise ambiental; de outro, Greta Thunberg, a quem o capitão desprezara xingando-a de “pirralha”, brilhou, afirmando-se como líder mundial da mobilização dos jovens pela defesa do clima.

Sim, porque tudo indica que a sue- ca de 16 anos não é exceção, mas ten- dência, ou seja, ela é a representante do grupo de ativistas pós-milênio que forma uma geração de rebeldes com causa, que é a defesa do meio ambiente. Dito de outra maneira, elas são o que o presidente america- no chamou em sua fala no Fórum de “profetas da desgraça e das previsões apocalípticas”.

Na plateia, estava a “pirralha”, que ficou lisonjeada, porque todos sabi- am que, embora não tivesse sido no- meada, a indireta era para ela. Em vez de se ofender, sentiu-se importante. Afinal, atribuem em grande parte à sua presença e atuação o fato de o Re- latório de Riscos Globais 2020 considerar as mudanças climáticas como a maior ameaça ao mundo.

Nascidos em um mundo já conecta- do pela internet, esses jovens cresce- ram em ambiente dominado por redes sociais e smartphones e, por isso, são super-informados. Adaptados naturalmente às plataformas de streaming de áudio e vídeo, eles são o que alguém classificou de primeiros nativos digitais. Exagerando um pouco, só um pouco, Greta sozinha já deve ter lido mais livros do que Trump e Bol- sonaro juntos.

Tenho um exemplar precoce dessa “geração Z” na família.

Alice, minha neta de 10 anos, quando descobriu que a avó não sabia qual era o wi-fi da casa, reagiu inconformada, num misto de espanto e crítica:

-“Vó, você é analógica!!”. Também criticou a mãe de seu pai, que se empolgara por um feito do caçula Eric: “Deixa de ser machista, vó!”

Atenta à crise econômica, ela um dia chamou a atenção do irmão que brincava fazendo barulho: “Você está atrapalhando papai. Se ele não trabalhar, não ganha dinheiro e, se não ganhar, a gente vai morar debaixo da ponte”.

Não precisava ser tão dramática.

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