26 de abril de 2024
Livro

O AVÔ DE HARRY POTTER

 

Cartaz de Harry Potter e a Pedra Filosofal, filme lançado em 2001


Na idade de iniciar a leitura com personagens de nomes fáceis de decifrar – tico, saci, biriba, pererê, neco, maneco – o neto de seis anos já está lendo livros de mais de 600 páginas.

Aprendeu, e não é estória de vovô-babão, fora da grade curricular, enquanto em isolamento pandêmico.

Fazia questão de assistir às aulas remotas somente de cuecas (nunca enquadradas na câmera do laptop), como afirmação que as regras eram outras, havia uma nova ordem regendo o poder mundial e a escola nunca mais seria risonha como antes.

O irmão dois anos mais velho, havia ganho da avó, harryette com carteirinha de fã-clube, sua primeira pedra filosofal como estímulo e farol para mostrar a rota de viagem, depois da travessia do mar dos livros infanto-juvenis, de mais ilustrações que textos.

Na escola de magia e bruxaria da Hogwarts do Tirol, qual um Profº Snape, o sempre atarefado papai  James, arranjou um tempo para cumprir a escala de atividades organizada pela esposa, Lily.

Todo cair da noite, um momento de leitura com voz mansa e preguiçosa para ajudar no sono de quem não vinha tendo espaço onde consumir tanta energia acumulada, que transformava geladeira e despensa,  em esmeris da França.

O veterano passou a gazear as aulas do Profº Whindersson, para,  escondido numa câmara secreta por trás do sofá, embarcar na plataforma 9 ¾ da estação de King’s Cross.

Imaginava como ajudar o herói com quem se identificou, a sair das situações quase mortais que Lord Voldemort, está sempre tramando.

O método de leitura compartilhada utiliza recursos das Mil e Uma Noites.

Todo fim de capítulo, quando as pálpebras estão ganhando o jogo contra o time dos olhos abertos, uma nova aventura é anunciada.

A expectativa pela continuação da saga mistura-se com o medo, mas até para isso há solução fantástica. Que ninguém quer ficar no grupo dos trouxas.

O avô escolhido para ser o Fiel do Segredo prometeu nada dizer, nem se Madame Dolores Umbridge em pessoa o obrigasse a escrevê-lo no braço, com a tinta vermelha de sangue.

Vovô, eu só não tenho mais medo porque descobri  no YouTube, um canal que conta tudo o que meu pai vai ler depois.

Os spoilers antecipam os  próximos capítulos e livram de pesadelos, as noites de verão.

Só quem fica acordado qual um Olho-torto insone, rondando nas penumbras da Grifinória tropical  é quem teve a má-ideia de aguçar mais ainda o pensamento mágico.

E  imaginou  junto com os aprendizes de feiticeiros, como seria quando eles próprios estivessem introduzindo os filhos que virão, no fabuloso universo das palavras.

Vovô, você nunca vai saber. Você já vai estar morto.

A não ser que encontre, no além , uma  varinha mágica que mostre, os bisnetos deslumbrados com os velhos  livros que passam de pais para filhos.

(Texto publicado na data palíndromo, 2/2/22)

29/05/2022

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