26 de abril de 2024
ArteCULTURA

“O Sertão Virou Mar” sob a sensibilidade de Manoel Onofre Neto

Como já anunciado por aqui, próxima semana, na terça, 24, teremos a abertura da Exposição “O Sertão Virou Mar” de AZOL, desta vez, na Pinacoteca Potiguar.

E, para homenageá-lo, captei a sensibilidade do amigo curador, colecionador, inspirador e apoiador da arte potiguar Manoel Onofre Neto, que nos presenteia com um texto sobre a referida exposição, feito a partir do catálogo da mesma…

O Sertão Virou Mar, exposição de Azol
(por Manoel Onofre Neto1)

No início da década de 1930, o mestre Luís da Câmara Cascudo embrenhou-se pelo Sertão. Dos 1.307 quilômetros percorridos nas “terras curralengas”, pariu um registro de cunho afetivo e confessional, convertido numa publicação: Viajando o Sertão.

Nela Cascudo dá conta do épico povoamento do Sertão; defende ferrenhamente a cozinha sertaneja, a arte e suas variadas expressões relacionadas à fé. Entroniza a cantoria e o vaqueiro. Destaca o classicismo sertanejo na fala. Espora o cangaço e Virgolino Lampeão. Particulariza, sem arrodeio, o Sertão.

Quase cem anos depois, Azol, outro potiguar com raízes sertanejas – do Seridó e do Oeste norte-rio-grandenses – também incursiona pelo Sertão. O registro, igualmente poético e confessional, é pictórico, é sinestésico, provocando uma encantadora experiência sensorial. Ângela Almeida, professora, pesquisadora e artista visual

Azol, diante da imensidão do Sertão, faz ele virar mar. Mar de possibilidades estéticas e visuais, tão vastas que se arvora de múltiplas linguagens, materiais e procedimentos: pinturas, fotomontagens a partir de sobreposições, vídeos e instalação. Todos muitos bem enredados, na mesma toada cascudiana, que faria o mestre aplaudir de pé. Nas palavras do aclamado curador de arte Marcus Lontra: “Azol atua como regente de saberes variados, temperando conceitos e imagens que retratam e recriam a imensidão das várias realidades sertanejas”.

Não excedo em afirmar que Azol confabula com Cascudo, na medida em que identifico, cristalinamente, a paleta e a tradução visual de Azol na descrição do mestre. Numa das passagens de Viajando o Sertão, Cascudo registra que “atravessando o vale pontiado de casinhas sorridentes e cheio de alegria, sobressaia a cor encarnada, índice de mentalidade primitiva, arrebatada, impulsiva, sensual”. Azol, da mesma forma, carrega sua tradução de Sertão nos variados tons de vermelho, a mais antiga denominação cromática do mundo e a primeira cor a ser batizada pelo homem, numa clara e dramática homenagem às suas raízes sertanejas, como se quisesse, ainda que identificando sérias e complexas questões sociais, provocar uma contemplação.

Em ambas as incursões – a literária de Cascudo e a pictórica de Azol -, cabem as certeiras palavras, que faço minhas, de M. Rodrigues de Melo, tiradas do prefácio de Viajando o Sertão: “extraordinário manancial de conhecimentos, sensibilidade e ternura humana”. São poéticas visões do Sertão, transmitidas com tons fortes, que traduzem a sua luminosidade e as suas infinitas possibilidades e expressões.

Vele o registro da professora, pesquisadora a artista visual Ângela Almeida, no sentido de que “Azol resiste, retém seu olhar voltado às terras secas de seus sertões de infância. Na sua longa jornada de construção de imagens plásticas, se avizinha também o fotógrafo e, como tal, produz imagens retalhadas, reveladas em saturação, borradas nas bordas, derramadas de outras cores. (..) Porém a pintura e a fotografia não bastaram para Azol: a linguagem do cinema foi acionada (porque ele um dia estudou cinema) e o que estava quieto, parado, se levantou, ganhou ritmo, movimento”.

A exposição “O Sertão Virou Mar”, de Azol, já aportada em diversas capitais, apresenta, em múltiplos suportes e plataformas, um sertão vigoroso e plástico, com resultado expositivo deveras elogiado, com destaque às pinturas, fotomontagens e uma vídeoinstalação.

Aproveitem!!

Arte é cultura, é vida, é sabedoria, é o máximo de bacana…

Manoel Onofre Neto e AZOL

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