26 de abril de 2024
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PRIMEIRAS NOTÍCIAS

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O Carnaval do Arlequim (1925) – Joan Miró – Galeria de Arte Albright-Knox, Buffalo, Estados Unidos


2020

O ano  começava preguiçoso.

Sol, sal, mar, veraneio.

Pra  tudo o mais, de novo, só acontecer depois do Carnaval.

Na animada festa do povo, as mesmas atrações.

Fantasias de sempre  e temas políticos que têm se  repetido mais que refrão de partido-alto, nos  desfiles das escolas de samba.

A novidade, ficou-se sabendo pouco depois,  foi  um turista atrasado.

Levou falta, não pediu ressarcimentos, nem ao menos  adiou a excursão para o ano vindouro.  Mas, na ressaca da fuzarca, apareceu sem avisar, fazendo folia, fora de época.

Mandou  antes a fantasia, e quando a encomenda chegou, já eram cinzas.

Ninguém saiu vestido de seda pura.

Nem de musseline.

Nem de Mandarim.

No meio do caminho,  um empalho.

Quem sabe, efeito de tanta notícia de violência urbana, queimadas na Amazônia, achincalhes a Greta ou somente misoginohomofobia, preferiu passar o tríduo momesco em lugar mais elegante. No Vêneto.

Daí para uma esticada pela Lombardia foi menos de um pulo. Antes de finalmente embarcar  num navio de cruzeiro em Lampedusa, já havia passado pela Úmbria, sem ter recebido a benção papal (SS estava gripada), no último jardim do Lácio.

Chegou como rei coroado,  trazido nas bagagens dos endinheirados que festejaram os feriados,  cultuando Baco, em terras, portos e navios distantes.

Qual conde romeno, escondia-se do sol. Pensaram logo que preferia lugares onde o frio aproximava as pessoas, em ambientes mais aconchegantes.

Como se fosse igual a tantos outros da sua espécie, esperava-se que seria também guiado pelas estações do ano, e tivesse o costume de  esperar  pelo outono para prosseguir a excursão que contamina  amigos e familiares, estendendo-se por todo o inverno.

Não se sabia ainda a razão de não participar  de bailes infantis. Meno male.

Mostrou logo, certa  predileção pelos saudosistas das antigas.

Quem já nem troca o passo, mas ensaia tesouras e parafusos aos primeiros acordes do vassourinhas.

E lacrimeja de  saudade dos entrudos, corsos e troças.

Não era brincante de primeiro espetáculo. Nem marinheiro de segundo naufrágio.

Há um século já havia andado por tudo que é canto da Europa,  conhecido como A Espanhola.

Registra a História, ter acabado com a festa de 40 milhões de pessoas.

Modificado, renovado e revigorado, sem falta, todo ano, dá o ar de sua desgraça, em périplo, a começar pelo  norte, no inverno. Depois, em doses repetidas, debaixo do equador.

Há relatos de haver  transitado em áreas menos extensas.

Há 60 anos, pela Ásia, quando não se sabia o que acontecia (nem quantos visitou) por trás da grande muralha, deixando um rastro presumido  de 1,5 milhões de contaminados.

Dez anos depois, só em Hong  Kong, mais um milhão, na macabra conta,  sem somar  nenhum do vizinho país continental, ainda fechado para os olhos exteriores.

Andou pelo Oriente Médio, violento, atacando os dois lados de uma  guerra sem fim.

Na terra onde a esperança fez-se  profissão, o medo era que o visto do turista durasse mais que um pesadelo de uma noite de verão.

Como parece que veio para demorar, é tempo de aprender a conviver com o inconveniente folião.

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Nascimento do Mundo (1925) – Joan Miró – Museu Metropolitano de Arte, MoMa, Nova Iorque, Estados Unidos

2 thoughts on “PRIMEIRAS NOTÍCIAS

  • Maria das Graças de M. Venâncio

    Já fez análise? Boa crônica, tem uma visão multifacetada do carnaval. Ótimas ilustrações de Miró, que no final da vida já não podia pintar a óleo. Somente com a base d’agua das aquarelas. Nem sabia. Um amigo me disse. Eu idem. Vc escreve bem como cronista do cotidiano. Lembra quando foi coordenador da SIC ou era Secretário da SIC. Nada passava para mim. Logo pedi DE a UFRN. Menos male.

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  • Maria das Graças de M. Venâncio

    Desculpe confundi vc com Cid Arruda. Vc é médico. Tem muita sensibilidade no que escreve. Ilustrações maravilhosas. Família de mentes brilhantes. Com algumas diferenças. Comi uma galinha caipira muito boa na casa da sua mãe em Nova Cruz. Era muito jovem e estavam escolhendo os municípios onde haveria hotéis da Rionorte Hoteleira. Decisão política. Há uns 2 anos minha filha precisou trabalhar em Nova Cruz pelo Ibge e é um município até desenvolvido face a outros existentes no RN. Vc tem um irmão caçula Lauro que já me consultou num momento de ansiedade. Achava que estava com algo no meu coração. Tenho dois irmãos que já tiveram. Eu nada de coração, mas revoltada neste faroeste tupiniquim propiciado pela índia Fátima Bezerra. Não é possível que ninguém tenha coragem de falar que o governo dela foi desastroso. Tchau.

    Resposta

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