26 de abril de 2024
ComportamentoCoronavírus

TELEFONES E CARANGUEJOS

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O que era ficção científica virou realidade. Por força dos novos hábitos e comportamentos exigidos para o seguro convívio com a pandemia.

2020 será também conhecido como o ano do trabalho em casa, do restaurante em casa, do bar em casa, do barbeiro em casa. E das lives.

A realidade virtual, vista à distância, misturada com a vida entre quatro paredes.

E um tapete antisséptico na porta.


(Publicação original em 16/10/2019)


CORDA DE CONVERSA

Não se formam mais rodas de conversa sem os inevitáveis celulares.

Onipresentes.

São imprescindíveis para o bom andamento do papo. Cada um com seu cada qual. É bem verdade que alguns, dizem por motivo profissional (mas pode ser tarifário), carregam um em cada bolso.

Participam com tanta naturalidade dos assuntos que já não há mais aquelas reclamações da intromissão indevida dos tempos que eram usados somente para falar.

E tocavam irritantes e dispersantes sons de chamada.

Emudecidos, participam silenciosamente, assessorando as matérias trazida ao palco das discussões.

Acabou o tempo que se pedia um tempo para se provar uma informação posta em dúvida. O tira-teima é online. Na lata.

Com direito a arbitragem de um tertius, no padrão FIFA, sob forte influência do Google.

E do VAR.

Discretíssimos,  só são mostrados e aparecem quando novos, e se trouxerem recursos merecedores da atenção e inveja de quem passa a partir daquele momento,  a ter nas mãos, objeto tão obsoleto.

Mesmo que as funções demonstradas pelo CEO da empresa tampa na última  feira de Las Vegas e repetida ali poucos dias depois,  não venham a ser necessárias. Nem nunca usadas.

Reuniões familiares ou de velhos colegas que se encontram esporadicamente, são tomadas pelas fotos. Que nunca bastam, por isso tantos pedidos de encaminhamentos cruzados. E comentários  nos compartilhamentos aos faltosos como os colegas estão derrubados e as colegas, plastificadas.

Com esses novos costumes, o teletransporte, última fronteira onde a ciência vai encontrar a ficção,  já pode ser considerado realidade.

Descoberta ao acaso, como tantas outras serendipities, pelos ausentes e viajantes que não aceitam ficar fora do papo.

Alguns, em jornadas distantes fazem sucesso com as variações dos fusos horários.

Despertam madrugada a dentro para marcar presença com uma surpreendente live. De pijama.

Espera-se para não muito distante que os smartphones possam produzir hologramas.

Futuros saudosistas já questionam a validade de um bate-papo com os participantes em suas casas e as imagens 4D, em volta de uma mesa da praça de alimentação, vazia, do shopping.

Na praia de Areia Dourada, em Cabedelo um grupo de cientistas sociais tem desenvolvido experimentos vivenciais que acreditam, possam eliminar a necessidade dos telefones portáteis em todo e qualquer convescote.

Há rumores que o assunto deverá merecer destaque numa próxima edição da Psychology Today.

As primeiras conclusões apontam que o hábito a ser reabilitado funcionou melhor em maio, junho, julho e agosto.

Baseadas na observação que nos meses sem R, aumenta o consumo dos caranguejos por estarem mais gordos e saborosos.

A conversa de novo à moda antiga tem tudo para voltar. Com toda força.

Ninguém consegue usar celular em torno de uma panela de uçá na molha de côco.

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