26 de abril de 2024
CULTURA

VIDAS VELHAS (AINDA) IMPORTAM

7DF969D1-8123-4BBB-A7DA-159BB2E8BCCE
Igor Shulman, pintor russo radicado em Praga


A pandemia nem havia atingido o pico da primeira onda e já se sabia  quem eram suas maiores vítimas

Nos países que se levantaram e sacudiram  a poeira primeiro, não houve dúvidas.

Os gráficos mostraram quem ficou no início da ladeira, no sopé da curva dos contaminados e não tiveram chance de poder, do platô, olhar o futuro.

Os velhos, mesmos chamados por outros nomes menos preconceituosos, foram os mais atingidos.

Entre eles,  os segregados vitalícios, moradores de abrigos e lares geriátricos.

Depois, os gordos. A partir do sobrepeso, nem sempre reconhecido como doença.

A seguir, os pobres.

Em lugares menos miscigenados, negros, latinos e imigrantes orientais.

Não por questão genética, de raça.

Pela pobreza e por onde vivem.

As doenças pré-existentes e comorbidades são agravantes comuns a todos os grupos de risco.

A contaminação continua  universal, democrática e não distingue classe social, religião nem posicionamentos políticos.

Vírgula.

O contágio é igual para todos; a reação ao flagelo, não.

Tudo é tão desigual.

Mundos tão desiguais.

Nutrição, controle de doenças crônicas e condições higiênicas fazem diferença.

Aos adoecidos, a qualidade da assistência determina o percentual de chances de sobrevivência.

Hospitais improvisados e equipes de atendimento com treinamento insuficiente não podem ser comparados com os demais, que mesmo tratando da mesma patologia ainda não totalmente conhecida, trazem a experiência de outras situações tão críticas.

Os arremedos de lockdown,  pouco protegeram os mais vulneráveis.

O busão continuou aglomerando os trabalhadores.

Com ele circulando cada vez mais lotado, com frota reduzida, pouco ajudam os cuidados depois do destino final.

Não se pergunta o que fazem os estudantes enquanto as escolas estão fechadas. Confinados entre quatro paredes, seus hormônios não ficam.

Não entendem quando o espírito gregário fala mais alto e os colegas passam a ser encontrados nas baladas clandestinas.

As falhas no esclarecimento à população dos alcances da vacina, mostram a dificuldade de apontar limitações no que se esperava perfeita, dádiva divina.

Para o vírus, continua havendo vida depois da injeção.

As pessoas precisam ser informadas que a tão sonhada vacina no ombro não é o fim do perigo, nem armadura impenetrável.

Que o distanciamento deverá ser hábito duradouro.

Que o uso de máscaras não precisa ser sempre mas que a nova peça do vestuário vai resistir a muitas mudanças nas coleções da moda.

O grupo prioritário  que já  recebeu a imunização, continua sendo o de maior risco.

Se antes havia uma placa imaginária afixada nos frontispícios e portões das casas: Cuidado com os velhos, agora deverá ter outros dizeres.

Continuem cuidando dos velhos.

DCDEE97F-2796-413D-8C53-75295FB5E01A
Sandra Ventura, fotógrafa  portuguesa

One thought on “VIDAS VELHAS (AINDA) IMPORTAM

  • Geraldo Batista de Araújo

    Textos sempre oportunos. O site vai escrever: você já disse isto. Será proibido elogiar o que é bem posto, como dizem os luzitanos?

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *