27 de abril de 2024
Política

A COR DO VOTO

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Definitivamente, a moda pegou.

Repercute, gera outras  notícias e é prato cheio para o noticiário da TV.

Os programas esportivos já podem até manter uma seção só para o assunto que trocou as resenhas pelos parquets dos tribunais.

A morte violenta de George Floyd, filmada num subúrbio de Minneapolis,  ganhou as mídias sociais, as ruas, o mundo e as consciências, com o aviso traduzido em todas as línguas.

Vidas negras importam.

No país miscigenado, não tem sido diferente.

Atos de racismo são procurados à lupa de aumento pleonástico.

Muitas vezes, facilmente encontrados, outras só com muita carga nas tintas das cores étnicas e na intolerância reativa.

Os tratamentos carinhosos, costume antigo, certamente vindo com outros vícios dos tempos da escravidão, passam a abomináveis.

Com efeitos retroativos.

A obra de Monteiro Lobato, a primeira vítima da sanha alvejante,  já começou a ter seus personagens revistos em tonalidades neutras.

No cancioneiro popular, não importam as datas e conjunturas sociais, um índex com as músicas de letras de ritmos raciais inadequados, já pauta o repertório que pode ser tocado nas rádios.

O incidente com o narrador de jogos de futebol da emissora gaúcha, é exemplar.

Quem lê a notícia ilustrada por notas de desagravo, não fica sabendo do  real tamanho do fato de tanta repercussão.

Quando identificou o jogador Lucas Braga como “crioulinho; o moreno”,  Haroldo de Souza não teve o intuito de menosprezo nem o timbre da sua voz transmitia qualquer ar de superioridade.

Vereador por três legislaturas em Porto Alegre, foi autor do projeto de lei que instituía o Dia da Consciência Negra na cidade.

Aprovado pela câmara, sancionado pelo prefeito, o feriado foi derrubado na justiça por ação das classes produtoras. Não racistas.

Ele próprio puxado na melanina, casado com mulher de cor.

(Olha o nosso preconceito aí, gente!  O adjetivo fica entendido não como a ausência, mas a presença  de todas as cores).

Condenado pelo implacável julgamento das redes sociais, aos 76 anos, está   ameaçado virar mais um desalentado, à procura de uma nova  profissão.

Não fossem as penalidades impostas aos descendentes por atos e equívocos dos antepassados, seria até o momento de lembrar, com as devidas identificações, um caso do folclore político do agreste potiguar.

A campanha já perto do fim, o candidato a prefeito que fascinou o povão com seu tostão contra o milhão dos fazendeiros e grandes comerciantes, já havia conquistado o voto do palhaço de circo que abandonara a vida nômade.

O encontro  do artista circense com o candidato a deputado na próxima eleição, era a oportunidade de fecharem compromisso antecipado.

O voto negado ao correligionário daquela vez.  estaria garantido em mais dois anos.

A sinceridade do eleitor e a justificativa que a opção era pelo vizinho e compadre, não foram suficientes para impedir a explosiva rejeição do prometido voto futuro, consciente e soberano.

Sabe o que você faz com seu voto, seu afrodescendente, grande filho de uma mulher sexualmente libetina?

O destempero verbal  de quem viria amargar uma sexta suplência, foi ainda mais longe.

Com a  indicação que o escrutínio fosse colocado no mesmo orifício onde 59 anos depois, o presidente da república mandou a imprensa enfiar uma montanha de latas de leite condensado.

NARRADOR USA TERMO RACISTA CONTRA LUCAS BRAGA “CRIOULINHO” | GRÊMIO 3 X 3 SANTOS

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