28 de abril de 2024
CoronavírusFamilia

A VACINA DE LAURITA

Leonardo, Laurita e Cassiano


Enquanto a população do
Rio de Janeiro, em pânico, comentava o aparecimento de uma nova doença, as autoridades sanitárias negavam a gravidade da notória situação.

Seriam casos isolados.

A mídia governista, na manchete do Correia da Manhã, era tranquilizadora.

Não há surto de paralisia infantil.

O avanço da contaminação foi inescondível e gerou polêmica.

Cientistas e observadores se digladiavam pelos métodos mais eficazes de controle da epidemia.

Com o espírito de Oswaldo Cruz redivivo, muitas casas foram dedetizadas para  erradicar algum inseto vetor desconhecido (e inexistente) que estivesse transmitindo a doença.

Pelas estradas esburacadas e nas asas da Panair, a moléstia se espalhou pelo país.

Até que as vacinas estivessem disponíveis, o número de sequelados aumentava a vergonhosa contabilidade, transformada em inaceitáveis estatísticas.

Em 1955, o imunizante injetável passou a ser usado.

Para poucos.

Somente com a chegada da forma oral, seis anos depois, a vacinação em gotinhas começou para todos.

Abrindo mão de patentes e direitos autorais, o Professor Albert Sabin, polonês, imigrante para os Estados Unidos, doou à humanidade o seu trabalho, conhecimento e a erradicação do terrível mal.

Não há como deixar de  comparar com o novo vírus que a todos amedronta.

Na falta de tratamento eficaz, medidas higiênicas e distanciamento social tentaram conter o ritmo da propagação, até o aparecimento de uma droga milagrosa que produzisse defesas individuais ou a imunidade natural a  todos protegesse.

A geração dos baby boomers, no pós guerra, foi a maior vítima da virose mutiladora.

Cada família ficou marcada com uma  triste história pra contar.

Cidades sem água tratada, transportada em precários barris, em lombo de jumentos, sem esgotamento sanitário, era o ambiente ideal para a proliferação da poliomielite.

Ao lembrar a  irmã que partiu há cinquenta e dois anos (estaria completando 77), o inevitável paralelo.

Adoecida aos 8, viveu mais 16 com a deformidade física, muletas, cadeiras de rodas, o grande mal epiléptico e perturbações mentais.

Em todo aniversário, na comemoração,  não faltava seu riso debochado com o prognóstico do professor-doutor-catedrático, neurologista carioca que havia estimado o limite da  sua vida ao início da adolescência.

Acreditava que muito em breve as cirurgias experimentais que prometiam fantásticos resultados no Canadá, estariam resolvendo seu problema, muito mais perto. No Recife, por exemplo.

Com o pai, procurou a cura nos melhores consultórios médicos e nos mais confiáveis terreiros de todas as religiões, de todas as cores.

A história da doença atual também será contada com saudade e tristeza.

Resta a esperança que a vida será melhor para quem vier depois da tormenta.

Leonardo, Terezinha Batista, Domicio e Laurita

(O texto publicado em 20/02/2021 está de volta com a polêmica se as crianças brasileiras devam ser,  as únicas no mundo, obrigadas  a se vacina para a COVID-19)

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