8 de maio de 2024
MemóriaPandemia

ASAS DA NOVA LIBERDADE

Morte e máscaras (1888) – James Ensor – MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque


A Psicologia ainda não atentou para um comportamento que se repetiu, em silêncio, e ainda está a
  merecer estudos mais atentos.

Um conjunto de sinais que pode  ser considerado sindrômico, repetido por pessoas em diferentes e longínquos lugares e culturas diversas.

A chegada da vacina, prometida redentora, selou o diagnóstico.

A Síndrome da Gaiola Aberta é mais abrangente que a Dourada.

Acomodação,  conforto, rotina e inércia, foi causa também de aumento do  feminicídio.

A princípio, a contragosto, obrigadas a seguir decretos das autoridades sanitárias, as pessoas de ambos e demais sexos,  tiveram de ficar mais tempo em casa.

A conscientização e o medo do perigo dispensavam as muitas reedições e prorrogações das medidas restritivas.

O tempo e as notícias de agravamento da pandemia formaram hábitos e pensava-se, uma cultura de distanciamento social estaria em criação.

Seríamos conhecidos como a geração dos ermitões digitais?

O isolamento trouxe novas formas de  relacionamentos.

Milhares de amigos virtuais.  Seguidores e seguidos, às pencas.

Encontros, em plataformas virtuais.

Toda forma de amar, à distância.

Juras, em emojis ao pé do ouvido.

Lares transformados em escritórios, fábricas, consultório, cinemas, oficinas, teatros.

Preces nas catedrais de led. O divino, no silêncio da sala de estar, em telonas de 55 polegadas.

Academia de ginástica no lugar do sofá.

Museus visitados em tours eletrônicas.

Cidades maravilhosas vistas do alt,o pelos drones e lentes das fibras da TV a cabo

A mesa no alpendre, sinal de jantar especial, à luz de velas.

Finalmente, chegou de novo a chance de experimentar o verdadeiro sabor caseiro, no almoço de domingo.

E  a saudade que batia do tempero dos restaurantes de fast food que fecharam  as portas, alguns para sempre.

A imunização e seus percentuais de proteção deveriam reverter este quadro mas não é o que se observou.

Entre os grupos prioritários, o fenômeno se repetiu.

A carta de alforria que libertaria as pessoas idosas para tudo que vinha sendo negado, não se mostrou o tão esperado passaporte para a terra do que era antes.

No começo, o argumento que a próxima dose seria o carimbo libertador.

Com o devido tempo para formação de anticorpos.

E mais outro para checar IgG, IgM.

A saída ficava, na dependência do nível de anticorpos neutralizantes.

Nos tornamos pacientes de manicômio que depois de décadas, recebem alta mas recusam viver no outro asilo igualmente louco.

A vida nova, os planos, a retomada das amizades, o convívio familiar, tudo ficando para depois.

A gaiola continuava de portas abertas mas o voo da liberdade não decolou.

Não teria sido  melhor do jeito que estava?

Os Cozinheiros Perigosos (1896) – James Ensor – Coleção particular

(Revisão de texto publicado em 17/04/2021)

 

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