ASAS DA NOVA LIBERDADE
A Psicologia ainda não atentou para um comportamento que se repetiu, em silêncio, e ainda está a merecer estudos mais atentos.
Um conjunto de sinais que pode ser considerado sindrômico, repetido por pessoas em diferentes e longínquos lugares e culturas diversas.
A chegada da vacina, prometida redentora, selou o diagnóstico.
A Síndrome da Gaiola Aberta é mais abrangente que a Dourada.
Acomodação, conforto, rotina e inércia, foi causa também de aumento do feminicídio.
A princípio, a contragosto, obrigadas a seguir decretos das autoridades sanitárias, as pessoas de ambos e demais sexos, tiveram de ficar mais tempo em casa.
A conscientização e o medo do perigo dispensavam as muitas reedições e prorrogações das medidas restritivas.
O tempo e as notícias de agravamento da pandemia formaram hábitos e pensava-se, uma cultura de distanciamento social estaria em criação.
Seríamos conhecidos como a geração dos ermitões digitais?
O isolamento trouxe novas formas de relacionamentos.
Milhares de amigos virtuais. Seguidores e seguidos, às pencas.
Encontros, em plataformas virtuais.
Toda forma de amar, à distância.
Juras, em emojis ao pé do ouvido.
Lares transformados em escritórios, fábricas, consultório, cinemas, oficinas, teatros.
Preces nas catedrais de led. O divino, no silêncio da sala de estar, em telonas de 55 polegadas.
Academia de ginástica no lugar do sofá.
Museus visitados em tours eletrônicas.
Cidades maravilhosas vistas do alt,o pelos drones e lentes das fibras da TV a cabo
A mesa no alpendre, sinal de jantar especial, à luz de velas.
Finalmente, chegou de novo a chance de experimentar o verdadeiro sabor caseiro, no almoço de domingo.
E a saudade que batia do tempero dos restaurantes de fast food que fecharam as portas, alguns para sempre.
A imunização e seus percentuais de proteção deveriam reverter este quadro mas não é o que se observou.
Entre os grupos prioritários, o fenômeno se repetiu.
A carta de alforria que libertaria as pessoas idosas para tudo que vinha sendo negado, não se mostrou o tão esperado passaporte para a terra do que era antes.
No começo, o argumento que a próxima dose seria o carimbo libertador.
Com o devido tempo para formação de anticorpos.
E mais outro para checar IgG, IgM.
A saída ficava, na dependência do nível de anticorpos neutralizantes.
Nos tornamos pacientes de manicômio que depois de décadas, recebem alta mas recusam viver no outro asilo igualmente louco.
A vida nova, os planos, a retomada das amizades, o convívio familiar, tudo ficando para depois.
A gaiola continuava de portas abertas mas o voo da liberdade não decolou.
Não teria sido melhor do jeito que estava?
(Revisão de texto publicado em 17/04/2021)