28 de abril de 2024
CinemaMemória

DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AO CINEMA NO BRASIL

 

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Filme de Nova Iorque (New York Movies, 1939) – Edward Hopper – MoMA, Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque

Todo saudosista tem seu cinema de estimação.

É tempo de lembrar e contar aos jovens que queimaram os miolos para redigir, em linguagem vernacular,  escorreita e castiça, como pode ser mais democrática,  a sétima arte.

O tempo traz à memória, com sentimento de perda, até o que era motivo de bagunça, assobios e apupos.

Quando as sessões cinematográficas eram medidas em partes, e ocorriam as frequentes  trocas dos rolos.

Com as luzes acessas, quanto mais rápido voltasse a projeção, melhor era considerada o pulgueiro.

Em caso de engano, as latas das fitas trocadas, não tinha como uma estória continuar, com a segunda parte de uma outra.

Quero meu dinheiro de volta.    

Reclamação recorrente e repetida, não só em  cada interrupção ou demora, mas em qualquer frustração à qualidade artística esperada.

Incluídas as propagandas enganosas dos cartazes da entrada.

Na tela remendada,  romance água-com-açúcar; ao lado da bilheteria, o reclame de Randolph Scott assoprando o cano esfumacento do três oitão do faroeste.

Não se encontram mais salas de cinema onde antes havia goteiras, mofo  e morcegos de assustadores voos rasantes.

Fitas gastas, arranhadas, cheias de riscos, manchadas pelas reprises, e quem levava a culpa, era a mãe do projecionista.

A bem da verdade,  som surround já existia. Muito mais avançado que o modernoso quadrifônico de hoje. Integravam a trilha sonora, o barulho do trânsito e as conversas na calçada.

No imponente prédio de pé direito alto, porteiro carrancudo que deixava passar os menores não pagantes,  mas acompanhados, cortinas puídas e cheiro de inhaca, ingresso era de todo preço e pra todos os gostos.

Poltronas, sem estofados.

Primeira classe, com direito a entrada de almofadas trazidas de casa.

Bancos, com e sem encostos, nas filas mais próximas ao écran.

Corredor lateral reservado à platéia em bipedestação.

Descontos especiais para os retardatários que pegavam o enredo no meio da missa. E depois pediam pra algum amigo contar o começo da trama.

Sessões contínuas eram luxos encontrados somente nas telonas em cinemascope, nas metrópoles.

Lugares reservados só para quem esperava, do lado de fora, com certa impaciência, o The End, para assistir o seriado. O público cativo para as aventuras de  Flash Gordon e companhia.

Nunca mais haverá  sala de projeção mais democrática que o Cine Éden, o Cinema Paradiso do Agreste.

(O título deste texto, publicado em  08/11/2019, foi o tema da redação do ENEM. Que não sirva de modelo para os concorrentes deste ano)

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No Cinema (The Sheridan Theatre, 1937) Edward Hopper -Museu de Arte de Newark
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Dois no corredor (Two on the aisle, 1927) -Edward Hopper, Museu de Arte de Toledo, Ohio
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Orquestra de Primeira Fila (First Row Orchestra, 1951) – Edward Hopper – Hirshhorn Modern Art Museum, Washington, DC
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Intervalo (Intermission, 1963) Edward Hopper – Museu de Arte Moderna de São Francisco, Califórnia

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