27 de abril de 2024
Política

DESMELHOR NÃO FICA

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Não é difícil constatar em qualquer supermercado que a fila ao lado sempre anda mais depressa.

Ao transformar observações da vida cotidiana em princípios científicos que  pareciam absurdos em 1949, um engenheiro aeroespacial americano não estava imaginando que alguma delas pudesse ser comprovada  por um país inteiro e suas 212 milhões de almas penadas.

Ninguém tem dúvidas sobre o  princípio geral que desencadeou as incontáveis Leis de Murphy:

Se algo pode dar errado, dará.

Onde nada vem dando certo, desde o achamento pelos portugueses e suas caravelas em viagem à Índia, a segunda lei é cláusula pétrea, se não na carta magna, na mente de todos.

Nada pode estar tão ruim que não possa piorar.

Quando reclamavam ao Dr. Ulysses Guimarães a qualidade dos parlamentares que chegavam em Brasília a cada quatro anos, ele pedia que aguardassem a próxima eleição.

A CPI da Cloroquina está aí para provar.

Quem haveria de imaginar macacos arrumando uma cristaleira?

Nem a  legislação murphyniana resistiu, ao rastro de destruição da pandemia.

Não se sabe se foi o fundo do poço ou o pico da curva que se distanciou tanto da linha da base que mesmo quem prevê um novo patamar de normalidade, tem que recorrer a neologismos.

As coisas ruins não melhoram mais.

Antes do paraíso sonhado, haverá um longo purgatório, não restam dúvidas.

A convicção que antes do desfecho final, os doentes apresentam o fenômeno da melhora da morte,  obrigam os filólogos a procurar neologismos.

Quem ousava dizer que o bom era inimigo do ótimo, agora sonha com o regular e se contenta com o sofrível.

Assim, depois de perambular por colunas de jornal e comentários de TV, entra na fila dos dicionários, um novo verbo que nasceu da desilusão.

Suas conjugações já provocam uma enxurrada de adjetivos, advérbios e substantivos incomuns.

Palavra perfeita para uso por oposicionistas  que não se rendem aos números positivos dos indicadores econômicos, quanto mais esquálidos, mais votos dos insatisfeitos trazem.

Pode ser usada também por negacionistas e terraplanistas, submissos à realidade que não cabe embaixo do tapete, utilizado na comparação com os idos dos governos passados.

Está na hora do Deputado Francisco Everardo atender ao clamor nacional e apresentar um projeto de lei, revogando seu bordão e as disposições em contrário:

Despior que está, tem de ficar.

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2 thoughts on “DESMELHOR NÃO FICA

  • Geraldo Batista de Araújo

    Texto maduro, digno de um David Nasser. Quando eu tibha uma coluna diária num jornal local tinha dias que eu escrevia sobre falta de assunto. Diógenes da Cunha Lima escreveu certa vez que o tipo de coluna que Cassiano e Serejo publicavam tinha sido criado por mim. Um texto e várias pequenas notas. Tive a honda de ter sido professor de Cassiano, que ainda me chama de professor.

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    • Domicio Arruda

      Todos os citados no comentário, incluído o ilustre leitor, são meus professores.
      Sou aprendiz

      Resposta

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