27 de abril de 2024
ComportamentoPolítica

É TEMPO DE DESPIORAR

 

Impressão, nascer do sol (1872) – Claude Monet – Museu Marmottan, Paris


Não é difícil constatar em qualquer supermercado, que a fila ao lado sempre anda mais depressa.

Ao transformar observações da vida cotidiana em princípios científicos que  pareciam absurdos em 1949, um engenheiro aeroespacial americano não estava imaginando que alguma delas pudesse ser comprovada  por um país inteiro, pelas  suas 212 milhões de almas penadas.

Ninguém tem dúvidas sobre o  princípio geral que desencadeou as incontáveis Leis de Murphy:

Se algo pode dar errado, dará.

Onde nada vem dando certo, desde o achamento pelos portugueses e sua caravelas em viagem à Índia, a segunda lei é cláusula pétrea, se não na carta magna, na mente de todos.

Nada pode estar tão ruim que não possa piorar.

Quando reclamavam ao Dr. Ulisses Guimarães a qualidade dos parlamentares que chegavam em Brasília a cada quatro anos, ele pedia que aguardassem a próxima eleição.

A CPI da Cloroquina foi mais uma  prova tragicômica.

O que esperar de uma cristaleira arrumada por  macacos?

Nem a  legislação murphyniana resistiu, ao rastro de destruição da pandemia.

Não se sabe se foi o fundo do poço ou o pico da curva que se distanciou tanto da linha da base, que mesmo quem previa um novo patamar para a normalidade, tem que recorrer a neologismos.

As coisas ruins não melhoram mais.

Antes do paraíso sempre sonhado pelos políticos, haverá um longo purgatório, não restam dúvidas.

A convicção que antes do desfecho final, os doentes apresentam o fenômeno da melhora da morte,  obrigam os filólogos a procurar neologismos.

Quem ousava dizer que o bom era inimigo do ótimoagora sonha com o regular e se contenta com o sofrível.

Depois de perambular por colunas de jornal e comentários de TV, entrou na fila dos dicionários, um novo verbo que nasceu da desilusão.

Suas conjugações provocam uma enxurrada de adjetivos, advérbios e substantivos incomuns.

Palavra perfeita para uso por oposicionistas  que não se rendem aos números positivos dos governos de qualquer ideologia, quanto mais esquálidos, mais votos para os insatisfeitos trazem.

Pode ser usada também por negacionistas e terraplanistas rendidos,  que não cabem embaixo do tapete da realidade.

Já passa da hora do Deputado Francisco Everardo atender ao clamor nacional e apresentar um projeto de lei, revogando o bordão de Tiririca e as disposições em contrário:

Despior que está, tem de ficar.

Mulheres no Jardim (1866) – Claude Monet – Museu de Orsay, Paris


(O tema deste  textículo, em forma de cantiga da perua, já foi entoado neste Território Livre em 14/06/2021)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *