27 de abril de 2024
EducaçãoMemória

ESTUDANTE DE ALTA PATENTE

O Leitor (1873) – Auguste Renoir – Galeria Nacional de Arte, Washington.


O odômetro já ultrapassou os 80 aniversários,  mas o coração de estudante não sossega dentro do peito,  nem para de  caminhar pela ar.

Depois de ter batido todos os recordes regionais de exames vestibulares, descobriu que  nesses tempos de Enem, sobram vagas para tudo que é curso, sem exigência de notas, além das de graduação in praeteritum tempus.

Historiador,  sem ainda ter  contado a própria, rica e eletrizante, enche o tempo que sobra das atenções aos netos, em missas e idas diárias ao mesmo supermercado,  em cursos de extensão e pós-graduação.

As boas línguas dizem que depois de longa viuvez, reencontrou um velho amor juvenil.

Segredo ainda guardado no bauzinho da família.

No momento, anda empolgado com estudos africanos e tem se dedicado à pesquisa da influência da cultura negra no teatro brasileiro, com incursões na cintilante teoria de gêneros.

Encontrou em Abdias do Nascimento, o  exemplo de vida e inspiração para continuar na luta.

O ativista dos direitos dos povos negros,  jornalista, escritor, ator, teatrólogo, artista plástico, professor universitário que virou político (no socialismo moreno de Brizola, foi deputado federal e senador pelo Rio de Janeiro), falecido em 2011 aos 97 anos, é seu modelo.

Para ter ingressado nas faculdades de Direito, Administração, Ciências Econômicas, História e Turismo, atribui o sucesso à tranquilidade que levava,  junto com a caneta azul, para as provas.

Sem nenhum preparo especial, respondia com o conhecimento fundado na Arcádia Natalense, acumulado ao longo do tempo e sedimentado na alegria de viver.

Português, do leitor voraz e redator bissexto.

Inglês de viajeiro.

Geografia, de quem já andou por Europa, França e Pirpirituba.

História de testemunha ocular e quase personagem.

Ciências do curioso, sempre aprendiz.

Na Matemática, enquanto cair Trigonometria ensinada pelo irmãos maristas .

Avesso aos conselhos dos primos e amigos mais chegados, nunca incluiu nos campos de interesse acadêmico, um cursinho sequer de introdução ao fantástico mundo da informática.

Continua fiel à remington e aos telefones que só ligam, tocam, falam e respondem.

Diz que havia programado um treinamento na linguagem DOS,  mas o tempo voou e quando atentou, as janelas coloridas do windows  estavam abertas sem que despertassem a vontade de ver o mundo debruçado em seus umbrais.

Agora, gozando de merecido descanso, o perigo é o exército acampado em frente ao Aero Clube, descobrir o único marechal dos povos originários do Curimataú, e o convocar para o comando da luta renitente.

Monet a ler (1872) – Museu Marmottan Monet, Paris


(Partes deste texto foram publicadas em 25/11/2019)

 

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