FAÇAM SUA APOSTAS
O mais importante ministro brasileiro é homem pouco afeito às tradições nordestinas.
Depois da campanha eleitoral de 2018, quando levou de barbada em todos os estados, o Professor Fernando Haddad pouco visitou a região nordestina neste quase um ano de governo.
Só este fato, para explicar que não tenha tido mais uma ideia para mais um imposto.
Se cobrado, atingiria somente os mais aquinhoados e as reservas financeiras que se encontram fora de circulação, na economia informal.
Tradição que resiste às pesquisas de intenções de votos, as apostas eleitorais já prometem mais emoções nas disputas municipais que se aproximam.
Na passada recente, foi fenômeno atribuído à pandemia. E ao volume de dinheiro circulante do auxílio emergencial que se somou ao do bolsa-família.
Na reta final da campanha, estavam em ebulição, estribadas nas palavras dadas e nas testemunhas que sempre são muitas.
As de grandes valores ganham fama e correm léguas.
Aos incrédulos, são mostrados filminhos com pilhas de dinheiro e os desafios aceitos com declarações de coragem e confiança.
Valem vantagem e usura.
– Quem se habilita?
O feeling do comportamento do eleitorado pode ser transformado em renda extra e motivo para comemorações mais efusivas.
Depois da parada casada, qualquer força para turbinar o desempenho do candidato, ajuda a espantar o azar.
Não dá pra deixar de participar das movimentações, tão importantes para conquistar os indecisos e quem sabe, virar alguns votos do outro lado.
Dos que nunca querem perder, Leandro, trabalhador rural, ajudando na lida do gado a 40 reais a diária, sempre gostou de política. Na cidadezinha onde vota, conhece todo mundo.
A simpatia pelo candidato, rapaz novo, filho de antigo benfeitor da comunidade, combinada à cor do partido de preferência, transformada em paixão política.
A teima dos amigos com outras predileções, depois de todos os argumentos e discussões, só podia terminar em convite irrecusável.
– Topa?
A certeza era tanta que arriscaria tudo de mais valioso das posses, os frutos do suor e da vida regrada.
Menos a moto, presente do pai.
O cavalo pampa estava às ordens.
Baixeiro, companheiro da lida desde que comprou ainda potro e levou meses para amansar, com arreios e sela, por égua já passada no tempo.
Era pegar e não largar.
Parada a ser resolvida em poucos dias, com o prêmio a ser recebido a tempo de participar da passeata da vitória.
Era o acerto.
Antes, para não perder a eleição, não se pode perder os comícios que viram festas nos fins de semana, no carnaval que dura mês e meio e é o mais animado de todos.
Para a patroa ficar em casa, cuidando dos bruguelos, não se precisa de muito convencimento.
Ouvir tantos discursos e aplaudí-los com entusiasmo, é parte do jogo onde se deposita todas as fichas.
A bebida farta e por conta, capaz de esconder a timidez e soltar a empolgação, prenúncio que o patrimônio pode dobrar em poucos dias, também apronta das suas.
Da volta pra casa, passadas das altas horas, poucas lembranças ficaram.
No corredor do hospital a 110 kms de distância, enquanto esperava passar pelo raio X que prometido de 4 em 4 anos, nunca havia chegado naquele meio de mundo, lamentava o azar de ter caído no buraco da estrada que o prefeito que tentava a reeleição, não tinha tido tempo de tapar.
Inabalável, a fé em Deus garantiu a alta do nosocômio, a tempo de sacramentar o voto.
E receber a aposta que continuou vogando.
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( A estória contada há três anos, com o titulo ‘As apostas estão abertas’, vale para a eleição de 2024)