HUMILDES DOUTORES
Quando Aristóteles disse que “as virtudes são hábitos dignos de louvor”, por timidez, a humildade quase fica fora da lista das 7 capitais.
Com o domínio das redes sociais, a modéstia passa por crise e tende ao esquecimento.
Todos querem, precisam e se apresentam da melhor maneira, se possível, mais que os outros que curtem e dão likes para não parecerem invejosos.
O ambiente virtual é convidativo para ajustes, retoques e consertos.
Alguns postulantes aos mais altos cargos da república, não têm feito diferente.
O cachimbo que entorta a boca também leva fumo.
A partir dos resumos de apresentação dos escolhidos para posições na mais alta cúpula, surgiu uma nova ocupação que pode vir a ser profissão promissora.
Analista de curriculum de autoridade.
Os egos artificialmente inflados não têm resistido às tentações de exageros e aos testes de veracidade.
O mais comum deslize é declarar cursos que nunca existiram ou multiplicar as horas estudadas para o ilusório upgrade.
Se alguém já escolhido e nomeado, para justificar a escolha do governante, precisa enfestar atributos, todas as outras reais capacidades perdem o valor.
E já houve caso de quem foi sem nunca ter sido. Tal viúva fogosa.
É difícil imaginar que um Ministro da Educação, na primeira entrevista coletiva, ao ser perguntado o que o tenha levado ao posto, respondesse, com temperança:
– Sou professor. E negro.
Todos já sabiam não ser por um ou dois pós-docs a mais, mesmo que o doutorado não tivesse sido concluído, que chegara àquele momento.
O indicado pelos futuros pares, de mais ou menos bagagem jurídica, qualificado para a função pela hierarquia alcançada na carreira, além dos cursos inexistentes teve o azar de bisbilhotarem trabalho apresentado e inexplicáveis semelhanças com outro antes publicado.
E não vale dizer que o copiado é de um amigo, ciente do fato.
Os órgãos de inteligência que prestam informações ao governo, ou não não são acionados, ou por excesso de confiança, mostram-se incompetentes.
Uma revista utilizou um site acessível e gratuito que identifica plágios e descobriu até palavra com o mesmo erro de grafia.
Estes episódios reincidentes também levantam muitas dúvidas da produção acadêmica dos nossos tantos mestres e doutores espalhados pela nação tupiniquim.
Os mesmos que, por arrogância ou ciúme, querem cassar os títulos que Dom João VI conferiu aos bacharéis em Direito e Medicina e os usos e costumes populares consagraram.
A não ser que queiram logo transferir a outorga da concessão dos diplomas de notório saber aos flanelinhas:
– Vai uma aguinha hoje, doutor?
Texto original publicado em 8/10/20