O DEVOTO DE IEMANJÁ
Há quatro anos, a deposição de Iemanjá do pedestal na praia do meio, para restauração, despertou nas lembranças de Leonardo, o irmão de memória prodigiosa, reminiscências da passagem do Professor Darcy Ribeiro por estas terras resgatadas do astuto holandês.
1990, campanha de Lavoisier Maia ao governo.
O também candidato (ao senado) pelo Rio de Janeiro, o ex-ministro da educação de Jango, veio dar uma força aos socialistas morenos potiguares.
Comícios, seus acessórios e consequências, nas capitais. Natal e Mossoró.
Contou com o apoio do correligionário, lídimo representante das beiras do Curimataú e dos pés-de-serra da Barriguda, em suas experiências pantagruélicas na peixada da Comadre e na carne assada do Lira. E do Marinho.
Pena que o assessor João Batista Saraiva não esteja mais por aqui para confirmar os outros locais aprazíveis visitados pelo ilustríssimo antropólogo.
No city tour, ao avistar a estátua de Iemanjá, pediu ao cicerone (por indiscrição do discípulo Mércio Pereira Gomes, tratado por Bimbo) que falasse com a prefeita Wilma Maia para cuidar da desgastada escultura.
E fez uma inédita confissão de fé.
Falando sério, como se numa aula magistral estivesse, revelou que aquela era a santa de sua devoção.
Mostrou os ex-votos que ela havia recebido e comparou com os dos outros santos.
Enquanto todos recebiam pernas, braços e mãos de madeira ou barro. Quadros com fotografias, fitas coloridas. E buscavam uma graça ou um milagre, os dedicados à rainha do mar eram bem diferentes.
Aos pés da imagem, cachaça e outras bebidas.
Muitas flores, pentes e espelhos.
Até calcinhas, cuecas e sutiãs.
É diferente. É só alegria.
A santa da devoção de Darcy era a santa da gandaia.
– A única que transa.
Darcy Ribeiro – que usou um sinônimo mais popular do verbo transar – faz uma falta danada no país dominado por terríveis forças medíocres.