6 de maio de 2024
Memória

O DEVOTO DE IEMANJÁ

Autor desconhecido

Há quatro anos, a deposição de Iemanjá do pedestal na praia do meio, para restauração, despertou nas lembranças de Leonardo, o irmão de memória prodigiosa, reminiscências da passagem do Professor Darcy Ribeiro por estas terras resgatadas do astuto holandês.

1990, campanha de Lavoisier Maia ao governo.

O também candidato (ao senado) pelo Rio de Janeiro, o ex-ministro da educação de Jango, veio dar uma força aos socialistas morenos potiguares.

Comícios, seus acessórios e consequências, nas capitais. Natal e Mossoró.

Contou com o apoio do correligionário, lídimo representante das beiras do Curimataú e dos pés-de-serra da Barriguda, em suas experiências pantagruélicas na peixada da Comadre e na carne assada do Lira. E do Marinho.

Pena que o assessor João Batista Saraiva não esteja mais por aqui para confirmar os outros locais aprazíveis visitados pelo ilustríssimo antropólogo.

No city tour, ao avistar a estátua de Iemanjá, pediu ao cicerone (por indiscrição do discípulo Mércio Pereira Gomes, tratado por Bimbo) que falasse com a prefeita Wilma Maia para cuidar da desgastada  escultura.

E fez uma inédita  confissão de fé.

Falando sério, como se numa aula magistral estivesse, revelou que aquela era a  santa de sua devoção.

Mostrou os ex-votos que ela havia recebido e comparou com os dos outros santos.

Enquanto todos recebiam pernas, braços e mãos de madeira ou barro. Quadros com fotografias, fitas coloridas. E buscavam uma graça ou um milagre, os dedicados à rainha do mar eram bem  diferentes.

Aos pés da imagem, cachaça e outras bebidas.

Muitas flores, pentes  e espelhos.

Até calcinhas, cuecas e sutiãs.

É diferente. É só alegria.

A santa da devoção de Darcy era a santa da gandaia.

– A única que transa.

Darcy Ribeiro – que usou um sinônimo mais popular do verbo transar – faz uma falta danada no país dominado por terríveis forças medíocres.

 

Iemanjá, 1988 Carlos Bastos – Itaú Cultural, São Paulo

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