6 de maio de 2024
Memória

PERGUNTAR NÃO OFENDE

A incredulidade de São Tomé (1602) – Caravaggio – Galeria Sassouci, Potsdam, Alemanha.

Num mundo que passa por processo de pasteurização de ideias e pensamentos, emitir alguma opinião que desonere a receita da panaceia, ou faça os doutrinados lembrar  o leite derramado, tornou-se atividade de risco.

Até o direito à dúvida, herdado dos filósofos de todas as escolas, têm sido suprimido dos mais ousados que insistem em pensar fora da caixa preta, lacrada pelo identitarismo da grande mídia.

Abundam os rótulos, sempre pejorativos, obrigando os que pretendem iluminar um pouco mais o mundo, percorrer as ruas, vestidos somente com o barril de Diógenes, e uma lanterna em cada mão, com as inscrições:  obscurantismo e negacionismo.

Aos donos da verdade e aos praticantes da nova ciência da unanimidade universal, resta reagir com a velha, insubstituível e libertadora ironia.

E fazer as perguntas que nunca são respondidas, simplesmente porque não precisam de respostas.

Como a que fez um cidadão que se sentiu impotente diante de quem assumiu o poder de controlar a vida dos outros, estória já contada neste território liberto.

Nenhuma dúvida é cruel; nenhuma pergunta deve ofender.

IMPOSTO ECOLÓGICO

Nos tempos em que a escola era risonha, não havia concursos para os empregos francos.

Gestores públicos e barnabés em geral eram  nomeados ao  bel prazer, gozo e vontade dos chefes políticos.

Estes escolhiam entre parentes próprios e seguidores mais fiéis.

De preferência, de família grandes, de muitos eleitores.

Alguns ungidos mostravam  logo cedo a vocação para o novo cargo. Coisa que já devia estar impregnada no DNA.

Incorporavam, sem treinamento, todas as características do funcionário padrão.

De uma hora para outra, passavam a saber tudo do novo oficio. Tinham expertise  de nascença.

Tanta abnegação, quase deflagra uma guerra entre o novo coletor de impostos escorchantes e os fariseus de Nova Cruz que entre outros produtos, transitavam esterco de gado.

Caso resolvido somente na instância superior quando  a chefe política nomeadora chamou o nomeado e perguntou de chofre:

-Vieram me perguntar, se agora, até merda paga?

Davi com a Cabeça de Golias (1610) – Caravaggio – Galeria Borghese, Roma

(Publicação original em 01/02/2022)

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