QUIMERAS SEMELHANÇAS
Nesta nesga de Território Livre, baseadas em fatos, e pessoas reais, e na memória claudicante de um setentão, têm sido contadas estórias.
Afloram as que ainda estão guardadas na memória, com as inevitáveis mudanças provocadas pelo passar dos anos, e antes do esquecimento total.
Que seja assim, até a hora do embarque na plataforma do trem para Alzheimer.
A identidade dos perfilados quando resguardada, algumas vezes, não se há de negar, é facilmente revelada.
Depois da última viagem, tudo que ficou para trás e resta, vira riqueza imaterial que não precisa de guardiões.
A boa fortuna é o sentimento que fica.
Os afetos dos lembrados passam por filtros, controles e esquecimentos voluntários.
Para renascerem em muitas versões.
Que cada um conte a sua, do seu jeito.
As viagens pelo tempo resgatam das prateleiras pouco frequentadas da memória, reminiscências, exemplos para as gerações do presente e as que estão a chegar.
Cada cena contada ao feitio de quem a concebe, lembra e dirige.
Os personagens são singulares e aceitam múltiplas versões, pintadas em todas as cores do caleidoscópio da imaginação.
É comum o memorialista, sem pretenções de historiador ou biógrafo, receber no privado, reprimendas pelo que expôs em público.
Lições de como desenhar os perfis.
Censuras pelo jeito, forma e modo de narrar.
Exigências e exageros para preservar as honras jamais vilipendiadas.
Seria muita pretensão do autor dos pequenos textos sem estilo, nem cabrestos, parodiar Nelson Rodrigues: A Vida É Como Parece Que Foi.
Como contado ou lembrado.
Tipos incógnitos, anônimos ou fictícios, são evocações de pessoas de carne e osso.
Interessantes e inesquecíveis.
Exijam dos biografistas, os rigores das informações precisas, completas e fidedignas.
Aqui, toda coincidência será sempre tratada como mera semelhança .
(Com modificações, este texto foi publicado em 14/02/22)