VOVÔ DE FRALDA
Que drogas hipnóticas são essenciais na indução anestésica, e sem elas a entubação traqueal é quase impossível, qualquer estudante bolivariano, de uma dessas faculdades de medicina de fronteira, sabe.
Em tempos de fakenews, a procura do soro da verdade está no ar.
É tech.
É pop.
É ciência anti-terraplana.
Num passado que fica cada vez mais remoto ao se aproximar o 60° aniversário dos acontecimentos, contam que depois do pau de arara não havia melhor remédio para soltar a língua dos que subvertiam a ordem estabelecida defendida por todos os jornalões e unanimidade das emissoras de TV, que uma dose cavalar de tiopental sódico na veia.
Registram que o primeiro soro da verdade foi utilizado no início do século passado.
Um obstetra norte-americano observou que as mulheres em trabalho de parto falavam sinceramente sobre vários assuntos, quando anestesiadas com escopolamina.
Em 1922, ele testou a droga em dois suspeitos de um crime, que negaram as acusações e foram inocentados.
Nossos companheiros de BRICS, os indianos, também negam, mas são frequentes e críveis as denúncias de aplicação policial de drogas hipnóticas em algumas regiões do país emergente.
Para quem só conta segredos na expressão latina que vem de Plínio, o velho grego, “in vino veritas”, o perigo mora numa sala de recuperação anestésica.
Mas é necessária a presença de uma testemunha boquirrota, de preferência um filho médico que tenha filhos que há muito aboliram a censura e a distância hierárquica do avô.
A quase centenária sonda vesical de permanência, Foley para os íntimos, é peça fundamental no pós-operatório das mais modernas e tecnológicas prostatectomias radicais robóticas.
Podem – e agora está provado – desencadear lancinantes dores no abdômen, apesar do eufemismo médico tratá-las como desconforto.
Os relatos são de um despertar tumultuado.
Depois de não se conformar com as explicações do paciente enfermeiro, ainda zonzo, o recém-operado, desconfiado que a lavagem intestinal não fora completamente eficaz, fez, aos brados um alerta para que fosse levado logo ao banheiro.
Agora, os netos têm uma nova saudação para os encontros com o avô-cagão:
Meu companheiro, vai acontecer um desastre ! Meu companheiro, vai acontecer um desastre !
Nenhuma tragédia, que uma fralda geriátrica não tenha resolvido.