27 de abril de 2024
Coronavírus

RECEITA DE SOGRA

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Com nove filhas, outro tanto de genros, netos e bisnetos (que só aumentam), prepara banquetes do dia-a-dia para um batalhão.

Em família que guarda e passa às novas gerações, tradições culinárias, é referência de quituteira.

Receitas, perdeu a conta de quantas espalhou.

Aos 91 anos, viúva,  presidente de uma associação de pais e amigos de pessoas com deficiências, vinha respeitando o isolamento social, liderando seu aguerrido time, à distância.

Como tantos outros que por correrem maiores riscos, cuidavam com mais rigor do distanciamento social, conheceu o inimigo, trazido para seu refúgio, por pessoa muito próxima. E querida.

Decidiu enfrentar a maior ameaça à sua saúde, em campo de batalha que escolheu por conhecer bem.

Transformou a casa em uma unidade hospitalar.

Quando uma das médicas assistentes sugeriu uma curta temporada em hospital de verdade, negociou a intensificação dos cuidados domésticos.

Às filhas, foi mais contundente.

Aceitaria qualquer tratamento, com a única exigência de não ter que sair de casa. Lugar que já lhe  havia servido de maternidade, tantas vezes.

E para que não restassem dúvidas, declarou-se em pleno controle das faculdades mentais.

Lembrou que para ter seu direito assegurado, se preciso fosse, invocaria os ensinamentos da velha Faculdade do Recife, onde em  1953 foi das poucas mulheres a concluir o curso.

O livre-arbítrio prevaleceu.

Seguiu com disciplina exemplar, as recomendações da ciência e das artes médicas.

Quando já se preparava para o retorno à rotina fora das injeções, decúbitos, horários, termômetro, comprimidos  e xaropes, a constatação do comprometimento pulmonar em mais de 50%.

A luta que mal havia acabado, recrudesceu. Mais violenta e perigosa.

Agora, com armas comprimidas em cilindros de oxigênio, protegida por máscaras de astronauta e mobilização limitada ao permitido pela fisioterapia e pelo oxímetro.

A certeza que completaria a dolorosa travessia, contou em orações e assegurou com a fé que nunca faltou.

Entre avanços e recuos, manteve o moral da tropa elevado e para a imensa torcida, nunca deixou de dar esperanças que o jogo terminaria em vitória.

Na calmaria que segue tantas incertezas, no seu riquíssimo livro da vida, mais uma receita (e lição) anotada.

Esta doença é terrível.

Não bastam os medicamentos e os cuidados médicos.

A gente tem que ir buscar lá dentro, não se sabe bem onde, forças para continuar com vontade de viver.

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One thought on “RECEITA DE SOGRA

  • Geraldo Batista de Araújo

    Que boa notícia. Espero que esssa tal Civid não .e ataque. Já tomeia primeira dose da Vacina. Bom final de semana.

    Resposta

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