VIDA SEM SEGREDO
Todo cuidado que já era pouco, deve ser aumentado ainda mais com o que se fala e escreve.
Por mais restrito, camarada, familiar ou corporativo, seja o grupo.
Ao vivo ou por aplicativos.
À luz do sol, na sombra ou na penumbra.
O defensor público ganhou fama nacional, e inaugurou a categoria dos misóginos-fascistas-petralhas, por desejo sádico compartilhado em grupo de WhatsApp com somente três amigos.
Tancredo Neves não era de guardar segredos.
A quem o procurava com inconfidências, o político mineiro dizia que ao ser contado, mesmo somente a ele, o fato deixava de ser secreto.
Ninguém sabe mais o que pode ser recuperado, transcrito, gravado e degravado.
Usado e abusado.
O que voga.
O que foi falado à vera.
Ou na brinca.
Tudo depende de quem intercepta.
E interpreta.
Do jeito que corre o riacho, os precavidos serão mudos, surdos, analfabetos digitais.
E pouco cerebrais.
Quem garante que os russos já não estejam lendo o pensamento dos outros?
À distância.
A pressa continua sendo amiga das confusões.
O que se ouviu ontem, já é pra ser esquecido.
Os tempos pós-pandêmicos desmentem os chineses e seus provérbios que creem e rezam, a palavra lançada não volta mais.
Tem voltado.
Como uma flecha.
Já tem quem acredite que vai chegar o tempo quando será possível recuperar e ouvir o Sermão da Montanha, no som original.
É de imaginar o que pode acontecer.
Crentes, carolas, teólogos, descrentes, agnósticos.
Trend topic sem igual.
Enquanto não chegamos lá, dava pra simplificar um pouquinho.
No país de tantas leis, anda faltando a do bom senso.
Se todos simplesmente entendessem o que significa o meu, o seu, o nosso zap-zap.
Começando pela tradução.
E daí?
(Com modificações, este texto foi publicado em 04/07/2019)