27 de abril de 2024
CENSURA

VIDA SEM SEGREDO

O Quarto Azul (1901) – Pablo Picasso – Coleção Phillips, Washington DC, Estados Unidos


Todo cuidado que já era pouco, deve ser aumentado ainda mais com o que se fala e  escreve.

Por mais restrito, camarada, familiar ou corporativo, seja o grupo.

Ao vivo ou por aplicativos.

À luz do sol, na sombra ou na penumbra.

O defensor público ganhou fama nacional, e inaugurou a categoria dos misóginos-fascistas-petralhas, por desejo sádico compartilhado em grupo de WhatsApp com somente três amigos.

Tancredo Neves não era de guardar segredos.

A quem o procurava com inconfidências, o político mineiro dizia que ao ser contado, mesmo somente a ele, o fato deixava de ser  secreto.

Ninguém sabe mais o que pode ser recuperado, transcrito, gravado e degravado.

Usado e abusado.

O que voga.

O que foi falado à vera.

Ou na brinca.

Tudo depende de quem intercepta.                                    

E interpreta.

Do jeito que corre o riacho, os precavidos serão  mudos, surdos, analfabetos digitais.

E pouco cerebrais.

Quem garante que os russos já não estejam lendo o pensamento dos outros?         

À distância.

A pressa continua sendo amiga das confusões.

O que se ouviu ontem, já é pra ser esquecido.

Os tempos pós-pandêmicos desmentem os chineses e seus provérbios que creem e rezam, a palavra lançada não volta mais.

Tem voltado.

Como uma flecha.                                           

Já tem quem acredite que vai chegar o tempo quando será possível recuperar e ouvir o Sermão da Montanha, no som original.                                                                 

É de imaginar o que pode acontecer.                        

Crentes, carolas, teólogos, descrentes, agnósticos.

 Trend topic sem igual.

Enquanto não chegamos lá, dava pra simplificar um pouquinho.

No país de tantas leis, anda faltando a do bom senso.

Se todos simplesmente entendessem o que significa o meu, o seu, o nosso zap-zap.                             

Começando pela tradução.    

E daí?

A Vida (1903) – Pablo Picasso – museu de Arte de Cleveland


(Com modificações, este texto foi publicado em 04/07/2019)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *