26 de abril de 2024
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PERTO DA GUERRA

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A dança da morte (1903) – Albin Egger-Lienz – Galeria do Palácio Belvedere, Viena

Com a raridade de um político sincero, uma profissão de alto risco ainda resiste às novas tecnologias, hábitos e interesses do público.

Correspondente de guerra.

A última,  grande e mundial, foi acompanhada  bem de perto por dois brasileiros que escreveram também, suas histórias particulares.

Rubem Braga para o Diário Carioca e o homem de Assis Chateaubriand na Itália, Joel Silveira.

Incorporado às tropas da Força Expedicionária, como militares. Soldados diferentes. No lugar da baioneta, uma máquina de escrever quase portátil.

Imaginam-se as dificuldades.

Não só de garantir seus suprimentos. Fitas de máquina dactilográfica, filmes fotográphicos e papel.                                         

E nem como o escrito e fotografado chegavam à Rua do Livramento.

Os arsenais bélicos e as táticas de guerra foram mudando, sempre com o testemunho,  bem de perto, do jornalista que incorporou ao seu armamentário, a câmera de TV.

A guerrilha no Vietnã sepultou o charme da profissão e a perna de José Hamilton Ribeiro, o último dos mestres.

Desde o início, o confronto globalizado contra o vírus, a cobertura contou com reporteros presenciais,

Com  as atenções voltadas  para a refrega, sem convocação nem treinamento, todos tiveram que se envolver.

Os veículos de comunicação acionaram seus correspondentes nas principais cidades e nos centros de decisões.

Já eram especialistas em tudo, e estavam lá, sentindo o clima e adaptando as notícias ao jeito e modos brasileiros de recebê-las.

Passaram  a cobrir as invasões sorrateiras e somar as baixas nos hospitais. E cemitérios.

Nos picos e hot spots da contaminação, sem  proteção dos exércitos, nem de ninguém, trabalharam sem retaguarda, enviando notícias do campo de batalha aberto, sem trincheiras.

Não mostraram cenas de embates sanguinários.

Os palcos das ações violentas eram limpos. Assépticos, como filme de ficção científica.                                         

Não usaram coletes nem chapéus ramenzoni, com  o aviso press, de neutralidade.

Não mais,  aventureiros românticos e solitários.

Também foram vítimas.

Como suas mulheres, maridos e filhos, alvos das mesmas armas invisíveis e silenciosas do inimigo.

Tão expostos, passaram pelas mesmas privações da população civil e pacífica.

Ilze Scamparini, de Roma e Guga Chacra, Nova Iorque, experientes profissionais, acostumados com a  cobertura de grandes eventos e tragédias, em     enchentes, erupções vulcânicas, terremotos, atos terroristas, não contiveram as emoções nem lágrimas ao relatarem o flagelo nos lugares onde trabalham.  E onde moram suas famílias.

A invasão  da Ucrânia mobiliza de novo, o mesmo esquadrão da imprensa, desta vez, para uma guerra sem propósito, nem front.

Que para eles, os sinos também não dobrem.

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Pietà (1926) – Albin Egger- Lienz – Museu Leopold, Viena

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