4 de maio de 2024
11 DE SETEMBRO

Mundo da moda relembra impacto do atentado de 11 de setembro em Nova York

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POR AUGUSTO BEZERRIL

@augustobezerril

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Os atentados do 11 de setembro aconteceu numa Nova York tomada por modelos, estilistas, compradores, jornalistas e chamados fashionistas do mundo inteiro, presentes na então Mercedes Benz Fashion Week, como era chamada a semana de moda novaiorquina depois de anos ser chamada de 7onSixth. Os desfiles duravam por volta de seis dias. Em 2001, Fause Haten e Rosa Chá ( leia-se Amir Slama) eram nomes consagrados no São Paulo Fashion Week a ter espaço na passarela americana. O potiguar Geová Rodrigues – já radicado nos Estados Unidos – havia ganhado prêmio num concurso de novos criadores e aparecia na cena como criador de redesign. O que a história veio chamar de upcycling e teria a chance de fazer, como ele próprio contou, o desfile mais bem “estruturado” da careira. potiguar Fernanda Tavares, Gisele e Luciana Curtis – cuja família vive no Rio Grande do Norte – mudavam o padrão da beleza, subindo ao topo do ranking das mais poderosas e celebradas modelos do mundo. Os ataques ao World Trade Center muda o curso da história. A tragédia resgata, porém, trajetórias de fraternidade, respeito e superação. 20 anos depois, em meio à uma pandemia de Covid-19, Nova York vive uma semana de moda reduzida a cinco dias, um line up mais enxuto, florescida por nomes novos e outros já conhecidos no início da última década do século passado. Em que, para muitos, um dia mudou mundo.

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A noite do dia 10 de setembro foi de celebração e expectativas felizes em Nova York. Fause Haten havia desfilado coleção Spring-Summer 22 com sucesso, Amir Slama preparava o desfile da Rosa Chá para dia 13. Marc Jacobs mostrava poder de influência e recebia convidados em festa realizada na Little Island. Entre os convidados, o potiguar Geová Rodrigues, o fotógrafo Marcelo Krasilsic e o jornalista André Almada – na época, coordenava o trabalho de assessoria internacional da São Paulo Fashion Week. A potiguar Cheilha Correia morava em Nova York e dedicava-se à carreira da filha Fernanda Tavares. Mais que isso, Cheilha também acabava por representar carinho, afeto e proteção para modelos estrangeiras, claro que especialmente às brasileiras, que viviam em Nova York. Gisele e Fernanda são até hoje amigas. As jornalistas Gisele Najjar e Cristine Catherine estavam em Nova York acompanhando a participação dos brasileiros quando, no café da manhã, ficaram impactadas com a notícia. André Almada, que também fazia parte da equipe, não conseguia acreditar no que via repetidas vezes na TV. “Não poder ser, parece um filme”, disse Almada. A realidade literalmente irradiava uma sombra de incerteza, medo e restrições. O espaço fora fechado. Os voos para qualquer lugar do mundo estavam suspensos. O clima era de muita insegurança. “As informações eram desencontradas e a todo momento achávamos que iria acontecer novo ataque. Foi bem tenso”, diz Gisele Najjar, cujo celular era o único que ainda conseguia funcionar em meio ao caos.

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Geová Rodrigues havia planejado dedicar-se aos preparativos do desfile meticulosamente estudado para acontecer nas obras de um prédio da poderosa construtora Atlas, do grupo Gothan. Os convidados deveriam, ironicamente, usar equipamentos de proteção contra acidentes de trabalho. Com inserção nas mais importantes revistas mundiais, Geová teria finalmente um “show” bem estruturado, com orçamento de cerca de 25 mil dólares. O convite tinha imagem do nome Geová e um desenho sobre uma tábua da construção do prédio. O que seria uma visão de “novo mundo” foi tomado pela nuvem negra de destruição.  Para além do terror, o potiguar via aterrado o que seria para qualquer estilista um sonho. “Eu pensei que tudo tinha acabado ali. Que jamais eu iria desfilar, fazer moda“, relembra. Solidariedade e superação foram marcas do período. Geová uniu-se a outros brasileiros na ajuda mútua. Além do acolhimento, o designer contava sobre os brasileiros. O portal Cabugi.com – afiliada da Globo.com – noticiava, graças a informações obtidas junto ao designer sobre como estavam todos em Nova York. De Nova York, passando pelo Rio Grande do Norte, os brasileiros sabiam que a cantora Marisa Monte estava bem. O apartamento de Cheilha Correia serviu de abrigo seguro, recheado de afeto e cuidado, para modelos brasileiras.  Ao invés de ponto de base para o desfile que não aconteceu, o showroom da Rosa Chá servia de ponto apoio de brasileiros. Luciana Curtis, que naquele iria comprar um apartamento em NY, uniu-se ao grupo de brasileiros na QG de Amir Slama.

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2o anos depois, Geová Rodrigues criou coragem para rever o convite do desfile de 13 de setembro de 2001. Com direção de arte de Alex Kellas e fotos de Mathias Kesller, o característico traço do potiguar aparece sobre sobre uma tábua. Em outra foto, uma cadeira anunciava ou prenunciava um lugar esperado na sala do desfile. Hoje, dia do desfile de Geová no East Vilage, o arquiteto Tate Overton criou uma estrutura de tábua. “Engraçado que não foi uma escolha pensada. Ele mostrou, eu adorei. Só agora me dei conta da imagem do convite, justamente quando estou falando sobre o mundo novo, democracia, liberdade, igualdade“, diz. Outra coincidência: o desfile de retorno da grife  Proenza Schouler às pasarelas, um dos pontos altos do primeiro da dia NY Fashion Week, aconteceu, como escrito antes, no mesmo lugar, agora renovado, onde foi a festa de Marc Jacobs, 20 anos atrás. Lazaro e Jack, os fundadores da grife novaiorquina, já desfilaram para Geová. kai Kugne – integrante da grife da As Four, está no casting do desfile de Geová. Mariah Mackenzie, que desfilou para Three As Four (foto 04), é um dos destaques do desfile do potiguar. Na primavera que se anuncia, André Almada agora cuida do retorno das festas com selo The Week. Fause volta em coleção otimista, Amir Slama mantém influência. Marc Jacobs, junto à Miuccia Prada e Raff Simons, renova o poder de influência dos anos 2000. Os depoimentos de todos que viveram tão de perto o terror têm em comum a empatia. Se na virada do século Gisele, Luciana e Fernanda despontavam, Raynara Negrine é a brasileira que desperta na temporada de 2021. Quase todos demonstram carinho e respeito mútuo. O desejo de estar junto, tão presente no período de isolamento e incertezas da pandemia, é uma semente que resiste.

Acompanhe cobertura ABZ Tribuna do Norte da NFW.

Fotos / Acervo ABZ Tribuna do Norte

 

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