30 de abril de 2024
CoronavírusPolítica

FIM DA TRÉGUA

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Durou pouco, o relativo sossego.

A corrida para a próxima eleição já começou, dezoito meses antes do que marca o calendário da justiça eleitoral.

Há um ano, uma  cena viralizou, dando esperanças que as forças antagônicas iriam se somar no combate ao inimigo comum.

O registro fotográfico da visita do prefeito à residência da governadora, foi campeão de releases.

Vestidos de azul e branco.

A hostess na cor da paz e dos uniformes dos combatentes da linha de frente.

O meme circulou do litoral ao sertão. Ganhou apliques e adornos. Fake.

A mesa forrada de branco, associada no inconsciente coletivo à fé no sobrenatural, ganhou status de verdadeira. E fama de macumbeiros, os retratados.

Ali, a  disputa eleitoral parecia ainda distante, que ameaçada de adiamento, estava.

Das boas intenções do encontro, o tempo mostrou que nos bailes que viriam pela frente, a dança seria em ritmo de meio bolero.

Um pra cá, outro pra lá.

Cada um por si e disputa pelo primeiríssimo lugar, em terra tantas vezes piotária.

A prova inicial, quem faz o melhor e maior hospital de campanha, acabou em WO.

O de lona não apareceu.

A justiça do trabalho deu a força para transformar hotel em nosocômio e licitações,  idas, denúncias, anulações e vindas depois, estava fazendo a diferença no guia eleitoral.

Nem só os escorpiões têm natureza. Políticos também guardam seus venenos para aplicar na hora certa.

Reclusa, praticante do lockdown que tanto defendeu e não implantou, em todo o primeiro tempo, a governadora não entrou no jogo pra valer.

Inibida por contratação de reforços que receberam o bicho antecipadamente e não embarcaram nem devolveram a grana preta, delegou a auxiliares e estes a outros subordinados, as ações, comunicações e contagem de casos.

Guardou pandêmica distância das trincheiras.

Achatamento  da curva em instantes de arrefecimento da contaminação e descuido das autoridades, animaram a campanha política ao custo da fatura a ser paga depois das festas de posse dos eleitos.

Passados alpendres, almoços  e veraneios, a dura e cruel realidade continuava a mesma.

A volta dos piores momentos encontrou tropas dispersas, armas recolhidas, arsenal sem reparos.

Muitas baixas e os quartéis de volta à rotina.

O segundo tempo e a segunda onda já estavam adrede agendados.

A data da arrebentação era só questão de seguir o roteiro do cruzeiro que os adversários vinham fazendo pelos mesmos mares d’antes navegados em países distantes, até chegarem bem perto das nossas praias em festa.

O time nada amistoso, com reforços modificados em cepas e variantes não se intimidou diante do que poderia anular suas jogadas.

Com poucas chuteiras para tantos pés, muitos deltóides ficam sujeitos às injeções de vento.

Deste jeito, não se vira um jogo.

A tática adotada  foi escolher quem merece a primazia da proteção. Veteranos e pessoal do departamento médico.

E esperar para os demais, que a distribuição em doses fracionadas e homeopáticas seja eficaz.

Enquanto não apresentar volume de jogo para uma virada segura, resta insistir no toque de bola.

Defesa plantada e atenta. Evitar bolas divididas.

Retranca. Recolhimento.

O problema é que os dirigentes não se unem,  as comissões técnicas não definem juntas, as táticas.

A  plateia permanece amedrontada, assistindo tudo em home theater, correndo o risco de ser, a qualquer hora, chamada para entrar na arena e ter de enfrentar a fera.

Ao relento e à míngua.

Está na hora do santo baixar de novo.

Quem sabe, desta vez, não traga a paz, agora lembrada nesta parede de memória?

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One thought on “FIM DA TRÉGUA

  • observanatal

    Excelente texto.

    Diria que o único santo presente é Ogum.

    Há momentos que esse guerra política cansa. Cansa muito mais quando o resultado é pífio, quando vemos governantes em looping. Que ranço disso tudo, inclusive de torcidas.

    Resposta

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