3 de maio de 2024
Opinião

Dez anos de Pró Sertão tem rima com frustração

Roda Viva – Tribuna do Norte – 20/12/23

O cenário parecia a materialização do ótimo: – os novos Governos do Brasil e do RN, representado pelo presidente Lula e pela governadora Fátima, conseguiam agregar ao projeto, que nos últimos dez anos havia conseguido comprovar a sua viabilidade, e acreditar que este seu 10º aniversário seria multiplicado pela marca de cem mil novos empregos, garantidos por uma grande empresa local, a Coteminas, de Josué Alencar, que havia sido cogitado para Ministro da Indústria e Comércio, e a força internacional da Shein, gigante chinesa que decidira apostar no projeto de interiorização da indústria no RN. – Era o grande salto internacional.

Seis meses depois deste anúncio feito em Brasília, com pompa e circunstância, tornou-se uma enorme frustração, especialmente para as oficinas independentes, o coração do projeto, sonhando com o mercado mundial.

Quem buscou saber o que havia se consolidado desde então constatou “que não há novidades desde a entrega de peças piloto para serem testadas pelo mercado, em escala mundial”, ainda sem nenhum resultado prático daquilo que foi conversado com a benção dos dois governos.

Além de não se registrar nenhuma evolução para o novo patamar – escala mundial – do Pró Sertão, o novo grande parceiro nacional, a Coteminas que trazia a força da Shein, entrou numa crise que resultou até em manifestações públicas nas ruas e Natal pelo não pagamento de salários, o que nunca tinha acontecido em trinta anos de presença no Rio Grande do Norte. Comprometendo o salto internacional do projeto.

INDÚSTRIA NO INTERIOR

Lançado em agosto de 2013, para impulsionar a indústria têxtil e de confecções no interior do Rio Grande do Norte, o programa Pró-Sertão contabiliza, apesar de tudo, resultados positivos.

A previsão inicial era ter 300 oficinas independentes em atividade, o que ainda não foi alcançado. Em uma década, a evolução é expressiva: o número de facções têxteis saltou de 12, em quatro municípios, para 124, em 35 cidades potiguares no princípio de 2023.

Juntas, elas empregam hoje quase de 4.000 pessoas ante os 40 de 2013, e, em maio deste ano, superaram a marca de 1 milhão de peças confeccionadas por mês.

Em 2022, fechamos o ano com uma produção superior a 6,3 milhões de peças e mais de R$ 90 milhões circularam dentro dessas oficinas.

Esse volume, informado pela Associação Seridoense de Confecções (Asconf), considerando apenas a produção direcionada para a indústria Guararapes (que salvou o programa ao enfrentar a Justiça do Trabalho, que fez de tudo para impedir o modelo de parceria adotado. Inspirado no figurino de avicultura de Santa Catarina) , é 290 vezes maior que o inicial, 3,5 mil peças mensais. E representa algo em torno de 25% da produção da Guararapes, que topou e venceu essa guerra.

UMA AÇÃO DE GOVERNO

O Pró-Sertão partiu de uma iniciativa do Governo do Estado, na gestão Rosalba Ciarlini, quando o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico era o atual senador Rogério Marinho (PL), ganhando rapidamente o suporte da Federação das Indústrias do RN (Fiern), do Sebrae e de empresas do setor têxtil, sob liderança do grupo Guararapes, que à época projetava expansão no Estado.

A meta do programa tornou-se transformar o Seridó potiguar em um polo nacional de confecções.

O programa nasceu sob a liderança industrial do grupo Guararapes, mas, atualmente, explica Rodrigo Mello, do SENAI, existe uma gama de empresas, inclusive de outros estados, como Pernambuco e Paraíba, que vêm buscar no RN essa solução de produtos pela qualidade da produção, que evoluiu, nos últimos dez anos, a partir da rede de capacitação estruturada para atender a demanda das oficinas e das empresas contratantes.

“Lá, no princípio, nós (o Senai, junto com o Sebrae) trabalhávamos, especialmente, gerando capacitação em produto para que as pessoas soubessem fazer basicamente aquela primeira entrega. Hoje, nós estamos em um momento totalmente diferente, as nossas qualificações são voltadas à melhoria da eficiência, da produtividade, da qualidade, do controle de processo. Enfim, são palavras de um outro nível, não se trata só de corte e costura, mas de aprender a desenvolver o produto e ganhar mercado”, analisa o diretor regional do Senai.

O secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, Sílvio Torquato, declarou a Tribuna do Norte que a vocação e habilidade manual do potiguar deram base às oficinas. “Hoje, a produção das oficinas de costura no interior do Estado é um sucesso, atuando com sustentabilidade, e o governo do Estado está trabalhado com muita dedicação para que o programa cresça ainda mais.”

NOVOS RUMOS

Criticado por “submeter a pequena empresa local ao poderio dos grandes parceiros”, o Pro Sertão, diante das dificuldades geradas pela crise de um desses grandes parceiros”, obrigou um bom número de oficinas a buscar novos caminhos.

A Nobre Confecções de Jardim do Seridó, por exemplo, conseguiu furar o cerco a chinesa Shein e conseguiu firmar um contrato direto com ela de duas mil peças mensais, entregando o produto já acabado e diretamente para o e-comerce. Não é a única.

Na luta pela própria sobrevivência, as empresas locais estão se unindo e algumas delas já estão estudando até mesmo o lançamento de marcas próprias indo diretamente para o mercado.

E o mercado é o grande árbitro da livre iniciativa.

Mas o sonho internacional do Pró Sertão ainda não acabou. Existem bases sólidas para tornar possível o que ainda é um sonho que pode ter sido adiado: um lugar no mercado internacional.

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