DIA DE OLÍVIA
Estava acordado. Não poderia haver interferências, nem vetos.
O nome do primeiro filho seria escolhido pela mãe.
Do segundo em diante, a salutar alternância.
Num tempo em que os enxovais só eram completados depois do parto.
Na maternidade, a revelação, segredo a ser guardado com o pai, até a confirmação do diagnóstico, foi traído pelo semblante de quem nunca pareceu tão desapontado. E só durou poucos minutos.
Por motivo superior e inaceitável, o trato teria de ser rompido e a homenagem à bisavó, adiada.
Trocar por um nome mais comum. O mais comum de todos. Nossa Senhora, não foi aceito.
Continuou o mesmo que Shakespeare, em 1602, importou dos campos espanhóis e usou pela primeira vez na literatura.
Para nomear uma personagem que na Décima-segunda Noite, na de Reis, não pôde brincar como os outros jovens, por guardar luto.
O pesar passou.
Lento.
Mais que o esperado.
As previsões dos guardiões do conhecimento que o tempo dela, duraria no máximo 20 anos, ficam hoje, outros 20 para trás.
Os irmãos foram vindo.
Passando à frente.
Um. Dois. Três
Cada um indo mais longe.
De repente, a casa mais espaçosa.
Cheia de saudades.
O ninho, nunca vazio.
Não tardou, o recomeço.
As alegrias dos netos, divididas com a tia tão querida.
E todos os tios, todas as tias, todos os primos.
Todos os preferidos pela sobrinha e prima mais querida.
E as três melhores cunhadas do mundo.
E todos os amigos, os melhores amigos também.
O lugar reservado na família e nos corações conquistados com jeito.
As lembranças que tem deixado com pessoas por onde passa, nunca esquecidas.
Especial.
Agora, isolados neste jardim, sob árvore generosa, o sentido da vida, no momento mais incerto da humanidade.
A esperança que ainda teremos muito caminhos a percorrer, lugares e pessoas pra conhecer e retornar, e que estaremos sempre juntos.
Sem saber separar do amor, o sentimento, recorro à avó para comemorar seus 40 anos com uma singela homenagem.
Olívia, minha neta querida:
Devo a você o mais importante título da minha vida: avó.
Você me fez conhecer a maravilha do amor de uma criança sem o compromisso de educá-la.
De experimentar a ternura inesgotável de um coração sem maldade e malícia.
De ter a felicidade de possuir uma neta que é a unanimidade da nossa família, em carinho e amor.
Quero que você saiba que sou muito orgulhosa e imensamente feliz por ter a melhor neta do mundo.
Beijos.
-Margarida da Mota Rocha
(Texto original publicado em 28/05/2020, com o título A Melhor Filha do Mundo)