30 de abril de 2024
Coronavírus

NOVOS MEDOS

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O que faz as pessoas mudarem hábitos e comportamentos em tempos de pandemia, é o 
medo.

Ainda não definido, haverá de surgir um nome para resumir todos os sentimentos com a vida diferente a que fomos obrigados.

Coronafobia?

A sensação vai além da clássica misofobia dos que tinham  horror ao contato com a sujeira, contaminação e germes.

Agora, acrescentado do que possa contribuir para  o contágio, incluída a aproximação com os outros.

Consequências psicológicas que ainda não se pode prever.

Como será o comportamento de quem,  no período de formação, teve de manter-se distanciado,  aprendendo no isolamento e afastado dos professores?

Quais serão as lembranças de uma infância vivida diante das telas luminosas e inquietas que se transformam em tudo?

Recordações de natais com famílias reunidas em videochamadas, apagarão as anteriores?

Outros pavores resistirão, depois que o maior de todos for evitado pelo manto protetor das vacinas.

Os nomes pomposos vão se perdendo no pouco uso mas há termos  que além de esconder as fraquezas, dão um certo status à paúra.

Chique ser claustrofóbico, desses que preferem subir lances de escada e nem anestesiados entram no tubo da ressonância.

Algumas servem para deixar o interlocutor apavorado com  a própria ignorância.

Aracnofobia, é moleza.

Aerofobia, é pra levar qualquer às  nuvens, cantando o megassucesso de Belchior, segurando a mão da moça da poltrona ao lado.

amaxofobia é só para quem é fera de dicionário.

No jogo das palavras cruzadas, é de se consultar o pai de todos os burros ou voltar pra auto-escola.

A longa lista não tem fim. Continua com as fobias específicas.

De qualquer e de todas as coisas que se possa imaginar.

É o medo acentuado e persistente, excessivo e irracional, desencadeado pela presença ou menção de um objeto ou situação.

A pessoa reconhece o receio mas  não consegue controlar as reações.

Começa com um mal-estar, passa para ansiedade extrema, chegando a afetar a rotina e os relacionamentos.

Conta o empresário que depois de longo tratamento, livrou-se da sua.

Por muito tempo não conseguia ver palitos de dentes.

Mesmo que não estivessem em uso.

Mesmo os embalados individualmente em papel celofane, nas mesas das churrascarias.

Passava mal, como se atacado por crise de asma.

Aversão tão inexplicável  quanto a que surgiu em  substituição.

Agora, tem pavor às dentaduras.

Não consegue assistir videocassetadas que repetem exaustivamente,  próteses saltitantes, deixando murchas as bocas dos noivos na hora do sim.

Nem o bispo escapa.

Ninguém sabe se foi só susto, a reação da Vossa Reverendíssima quando em visita aos diocesanos num sítio castigado pelo calor inclemente do sertão.

Ao seu pedido para matar a sede, a recomendação que trouxessem a caneca de alumínio que já estava cheia de água fria, quase gelada.

A troca involuntária por outra igualzinha que servia para guardar a chapa da patroa, acabou em estrepitosa regurgitação pontificial.

E muitos pedidos de desculpas da devota com medo dos infernos de um  castigo celestial.

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