27 de abril de 2024
Política

O SHOW DA URNA

 

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Passeata dos 100 mil – 1968


Entre todas as incertezas que acompanham a pandemia, a mais intrigante está em curso, com data certa para acabar.

Mesmo os que defendem a flexibilização do isolamento e distanciamento, não clamam pela liberação total das aglomerações.

Os argumentos são voltados, basicamente, para a retomada das atividades econômicas.

Os que já retornaram, respeitam as  medidas preventivas. Restaurantes retiraram mesas dos seus salões e o comércio controla a entrada dos clientes para que a nova capacidade de lotação não seja excedida.

Curiosamente, a regra não é seguida  em um dos setores mais regulamentados.

Dispondo de rígidos mecanismos de controle, e estrutura invejável e cara, a justiça eleitoral lavou as mãos para as maiores ocorrências das violações das normas sanitárias.

Passeatas enchem as ruas das cidades e continuam sendo os mais acreditados preditores dos vencedores, mais do que as pesquisas. Manipuladas, dirigidas, ou não.

Deixar a decisão e as autorizações a critério dos prefeitos, incluídos os que disputam reeleição, é soltar o galinheiro todo na loja de cristais.

Macacos e raposas sabem que o feio é perder.

A quatro meses da maior festa  popular, os organizadores dos desfiles de carnaval já suspenderam os preparativos.

Sem turistas, ensaios nem apoio dos governos pentecostais, não tem como animar a folia.

Afastados do  trabalho e carentes da  fama sazonal, os carnavalescos descobriram um filão promissor para gerar ocupação, renda e votos.

Em todas as comunidades (políticas) a nova onda é a absorção dos elementos das escolas de samba nas manifestações partidárias.

Desde que foram proibidos os showmícios não se via tanta euforia como agora.

O show e o comício continuam. Separados e misturados.

Os espetáculos desceram dos palcos e palanques e são mostrados em movimento, na dança. No pé. Ao som das lambadas imortais.

Fantasias, alegorias e evoluções debocham dos adversários; as músicas (?) estridentes dos paredões de som, liberam adrenalina e a militância escondida.

Logo em seguida, no melhor dia pra agitar, na véspera da feira, o outro lado dá a resposta.

Em outras cores.

E a refrega segue até a eleição.

Mesmo com relatos de agravamento da pandemia, o espetáculo de luz e som incentiva o relaxamento das medidas protetivas de quem só externava a preferência eleitoral, à distância e de máscara da cor do partido.

Ainda dá tempo do espetáculo cívico ser normatizado, sem infrações à lei Maria vai com as outras.

Sem prejuízos para a preservação das alas-moças, poderão participar das passeatas, os candidatos a vereador. Na comissão de frente.

Os nossos futuros prefeitos e vices deverão se apresentar em carro aberto, tipo buggy.

Só serão permitidos acenos e sorrisos sinceros. Vetados, contatos físicos, apertos  de mãos e abraços.

Os adereços serão confeccionados com isopor. Para não serem usados como armas contra os adversários que provocam nas esquinas e sopés das ladeiras.

As máscara poderão trazer os números dos candidatos mas não deverão ser retiradas.

Menos quando for  para o uso de álcool.

Em doses.

Distribuídas pela carroça, último carro que fecha o cortejo.

Em frente ao cemitério.

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Passeata em Nova Cruz – 2020

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