27 de abril de 2024
Educação

Paulo Freire vive: Filme resgata método de alfabetização em Angicos

Da Folha de São Paulo 

Há 60 anos, o educador Paulo Freire dava início a um experimento na pequena cidade de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, que marcaria sua biografia e trajetória intelectual para sempre.

Foi lá que o filósofo testou e lapidou seu método de alfabetização de jovens e adultos que previa ensinar a ler e escrever em 40 horas a partir de palavras e situações do cotidiano local.

EXEMPLO DE EDUCAÇÃO PARA O MUNDO 

O sucesso desse laboratório pedagógico serviu de base para a teoria do conhecimento de Freire apresentada em obras que ganharam o mundo, como a célebre “Pedagogia do Oprimido” (1968), terceiro livro mais citado em ciências sociais no planeta, segundo estudo da London School of Economics (LSE), do Reino Unido.

Num tempo em que analfabetos não tinham direito a voto no Brasil, o resultado do processo emancipatório freiriano em Angicos produziria um índice revelador: ao final das 40 horas de aula, 300 alunos do curso se inscreveram para votar na zona eleitoral da cidade potiguar, que até então tinha apenas 800 eleitores cadastrados.

O êxito da experiência, que rendeu a Freire um convite do então presidente João Goulart para nacionalizar a iniciativa a partir do Ministério da Educação e Cultura, também gerou temores e desconfianças.

Depois do golpe de 1964, o governo militar prendeu Freire e encerrou abruptamente o projeto em Angicos.

Rumores de que os alunos seriam igualmente perseguidos levaram os recém-letrados a queimarem cadernos e livros para que não restasse nenhum rastro de seus tempos de estudante.

Catherine Murphy durante gravações que vão ampliar o filme ‘Fonemas de Liberdade’, sobre a experiência pedagógica pioneira de Paulo Freire em Angico (RN), em 1963.

Mas é sobre a revolução educacional semeada naquele sertão de que trata o documentário “Fonemas de Liberdade”, da diretora norte-americana Catherine Murphy.

O filme será exibido em Angicos nesta quarta-feira (5) durante as comemorações da experiência sexagenária.

A celebração dos 60 anos de Angicos terá a presença de ex-alunos do projeto pioneiro de Freire e de educadores que coordenaram as primeiras 40 horas de aulas no local, então batizadas de Círculos de Cultura. Muitos deles assistirão a seus próprios depoimentos para o documentário numa tela de cinema pela primeira vez.

“No mundo da educação e, em especial, da alfabetização de adultos, todos os caminhos levam a Paulo Freire”, afirma a documentarista, que está no Brasil para aprofundar a investigação sobre o experimento de Angicos em um segundo filme sobre berço do método freiriano.

Murphy encontrou imagens de época, depoimentos de Freire sobre o método, entrevistas com alunos de diversas idades, explicações de coordenadores dos Círculos de Cultura.

“Foram usadas 16 fontes diferentes, inclusive registros originais das aulas feitos pelo jornalista Luiz Lobo à época e que só sobreviveram à ditadura porque foram escondidos no quintal da casa de um amigo dele”, revela.

TL COMENTA 

A experiência de Paulo Freire em Angicos aconteceu também graças ao Governo visionário de Aluízio Alves, que nada tinha de comunista ou esquerdista, mas que sabia a inegável importância da Educação para um povo desenvolvido. 

Uma premissa, aliás, que atravessou décadas de forma inatacável por todas as matizes político ideológicas. O filme resgata e imortaliza isso também.

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