Triste estatística: Júlia Porcino mostra coragem e força para denunciar violência em show

Quem poderia imaginar que na multidão que pagou mais de R$ 300 – em média – para curtir os sucessos do cantor Gustavo Lima na Arena das Dunas, haveria espaço para agressão a uma menina de 18 anos, que certamente chegou à Arena das Dunas para se divertir, dançar, cantar. Apanhar, não!

Júlia Porcino Álvares, acadêmica de medicina, de 18 anos, entrou para a triste estatística de violência contra mulher no Rio Grande do Norte.

O Rio Grande do Norte não está bem na foto da violência contra mulher.

De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e de Defesa Social (Sesed/RN), o número de feminicídios registrados no Estado teve um aumento de 12,5% em relação ao mesmo período de tempo em 2021.

O estado tem uma média de oito medidas protetivas concedidas por dia para mulheres vítimas de violência em 2022. Segundo dados do Tribunal de Justiça do RN (TJRN), até o último dia 23 de agosto foram expedidas 2.058 medidas para mulheres potiguares.

FORMA INESPERADA 

A forma que Júlia foi agredida não é a mais comum nos gráficos apresentados no Agosto Lilás e setores de Segurança do Estado. Ela não foi agredida por namorado ou conhecido. Ela não tinha relação alguma com o agressor.

Júlia faz parte de uma juventude privilegiada e que não parece alvo deste tipo de violência. Ledo engano. Acontece,  sim , e é mais frequente do que se possa imaginar.

A diferença é que Júlia, apoiada por sua família, não teve medo de denunciar, de ir a uma Delegacia e fazer exame de corpo de delito.

Ela não deixou pra depois e não quis resolver de uma forma mais “discreta” para evitar especulações e repercussão.

Não! Ela fez o que deve ser feito por mais doloroso que seja. Porque faz parte também de uma geração que sebe que dor dela hoje pode evitar a violência de amanhã em Marias, Anitas, Carolinas, Sofias…

A AGRESSÃO 

As primeiras informações sobre a agressão foram dadas por um perfil chamado “MovimentaMulheresRN” que o contou o ocorrido de forma direta, informativa e incisiva:

O advogado Francisco de Assis Cunha, Secretário-Geral da OAB/RN, agrediu estudante de medicina de 18 anos no show de Gustavo Lima em Natal.

Segundo testemunhas, o agressor estava embriagado, tendo colocado a mão no rosto da vítima e empurrado, derrubando-lhe sobre a mesa.

Questionado por um primo da vítima, desferiu-lhe um soco, só tendo parado a sucessão de agressões por intervenção dos seguranças do evento. Foi realizado exame de corpo de delito e registrado boletim de ocorrência.

Aguardamos providências urgentes por parte da OAB/RN @oabrnoficial@caarn.oab@cfoab que, acreditamos, não compactuar com nenhuma violência cometida contra mulheres!

O grupo pedia providências a OAB, que só veio em nota no final da tarde de domingo, afastando Francisco de Assis do cargo que exercia  na Ordem para uma apuração de trinta dias. 

PALAVRA DO ACUSADO

Francisco de Assis distribuiu uma longa nota, negando o ocorrido e informando que vai solicitar imagens da Arena das Dunas para provar sua inocência e os fatos diferentes do que foram expostos pela mídia e redes sociais.

Ele disse que estava sofrendo muito com a dimensão do julgamento/condenação  pelas redes sociais e que está “destruído por dentro”.

O SENTIMENTO DE JULIA 

A jovem agredida escreveu sobre a agressão em tom de desabafo e questionou ” até quando”?

Até quando vamos viver rodeadas de homens assim?!!!

Inacreditável como ele conseguiu ser tão cínico!

Um homem que dirigiu as seguintes palavras a mim “ eu vou te dar um murro” logo em seguida empurrou meu rosto em direção a mesa, após isso ameaçou minhas amigas alegando que elas nao sabiam com quem estavam se metendo e pra completar ainda agrediu meu primo com um soco, consiga sair impune disso!

Sempre lutei pelos meus direitos, NUNCA aceitei nada menos do que mereço, tenho 18 anos e em nenhum dia da minha vida meu pai pelo menos alterou a voz ao se dirigir a mim, nenhum namorado se quer tocou de forma errada e nenhum amigo fez nada do tipo, nao é hoje que vou aceitar um cara sem caráter, sem índole alguma me desrespeitando publicamente!

Sempre fui educada com respeito, sempre exigi respeito e vou lutar ate o fim p que esse MONSTRO pague pelo que fez! O mínimo que eu deveria ter recebido era um “ desculpas” por parte do advogado que estava extremamente bebado, com certza as coisas se resolveriam melhor… mas nem isso ele teve a coragem de fazer, pelo contrário, alegou que eu estava “ louca” que “nunca me viu na vida” e ele com a esposa seguiram debochando da situação na delegacia!

Sinceramente, nao sei como o cargo de “advogado” que deveria prezar pelo harmonia e correção das relações entre os cidadãos foi dado a esse ser humano! Lamentável a situação, mas sigo firme, cabeça erguida e lutando ate o ultimo minuto pelo meu direito como mulher.

A VÍTIMA É SEMPRE A PESSOA AGREDIDA

Parece o óbvia a afirmação, mas é necessária e deve ser repetida à exaustão.

E quanto mais sobe a classe social a complacência com o agressor parece também se evidenciar.

“Ah ela provocou”, “Ah, ela é louca”, “Ah ela estava se achando”, “Ah, ela que começou”.

Ah, NADAAAA!

A mulher agredida é sempre a vítima. A Lei Maria da Penha deixa isso explícito, além de outras leis em vigor Brasil afora.

O advogado sabe disso. A OAB nem se fala.

CRIME NÃO COMPENSA

O triste episódio envolvendo Júlia no fim de semana pode ser um divisor de águas neste Brasil intolerante, violento e agressivo, onde o desrespeito não pode ser maior do que a esperança, a coragem e a felicidade que certamente, Julia voltará a viver amanhã e  nos próximos shows da vida.

Força, Julia! Você nos representa!