2 de maio de 2024
PolíticaTecnologia

VOTO DE FUTURO

A Pátria (1919) – Pedro Bruno – Museu da República, Rio de Janeiro


Há um ano a Câmara dos Deputados rejeitou o projeto de emenda constitucional que restabelecia o voto (também) impresso.

A 42 dias das eleições, o assunto ainda desperta polêmica, emoções e assanha um pelotão de saudosistas.

Parece até que a  pandemia não mostrou que há mais coisas entre o céu e a blogosfera do que pode imaginar nossa vã política.

Muitos ainda não perceberam que a  vida agora corre nas veias  dos  cabos de fibra ótica e por infovias misteriosas, e que nada será como antes, sem  talvez.

O próprio parlamento já mostrou que grandes decisões podem ser tomadas a distância, sem prejuízos, sem cochichos.                  

Basta trocar a pressão das galerias e lobistas, pelo sentimento do eleitor mais próximo.

Sai o saguão do aeroporto, entra o balcão da padaria, como lugar de encontro entre representantes e representados.

Ninguém precisa esperar pelo futuro. Ele chega sem tardar, não bate à porta, nem aperta campainha.

No universo tecnológico, a máquina do tempo não viaja para o passado.

Se o quadradinho luminoso que todos têm sempre à mão, já substitui até o papel moeda; se o dinheiro troca de bolsos no estalar de um pix, como chorar o leite derramado pelas brejeiras que não voltam mais?

As seguidas novidades eletrônicas fazem muitos se sentirem habitantes de Orbit City, vizinho da família Jetsons; outros,  um autêntico Flintstone, em Bedrock.

Qualquer novidade precisa o que os novos gestores, gurus das inovações, coaches  e mentores chamam de quebra de paradigmas.

Depois de uma campanha eleitoral eletrônica, por SMS ou e-mail, enviada uma senha por CPF cadastrado no TRE, é  acessado o site-urna-junta apuradora.

Em poucos toques e segundos, o dever patriótico se completa, e o resultado instantâneo é aceito, com clareza e democracia.

Na última eleição presidencial na Lituânia, mais de um quarto dos votos foram remetidos por telefones móveis.

As proconsults, smartmatics, intercepts e outras eternas vigilâncias são  os preços cobrados pela liberdade de escolher, em conforto e tranquilidade, quem nos governará.

De outros argumentos, não restam dúvidas.

Custos infinitamente menores.                                   

Domingo, dia de orações, churrasco, praia e pernas pro ar.

O sufrágio  obrigatório ou não, sem ninguém reclamar do trabalho que dá para  anular o voto.

Um dia, os netos do capitão votarão assim.

E não se ouvirá mais a chatice do lenga lenga do voto auditável.

Protesto – Pedro Bruno (1888-1949) – Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

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