12 de maio de 2024
Sem categoria

Gilmar Mendes na berlinda

Um leitor do blog trouxe a lembrança um artigo escrito pelo jurista  Dalmo Dallari sobre a indicação do ministro Gilmar Mendes para o STF. O artigo foi publicado pela Folha de São Paulo, em 2002. O blog Luis Nassif Online publicou novamente o texto de Dalmo que, naquela época, já dizia que “a comunidade jurídica sabe quem é o indicado e não pode assistir calada e submissa à consumação dessa escolha inadequada”. Vale a pena ler de novo.

Degradação do Judiciário

DALMO DE ABREU DALLARI

Nenhum Estado moderno pode ser considerado democrático e civilizado se não tiver um Poder Judiciário independente e imparcial, que tome por parâmetro máximo a Constituição e que tenha condições efetivas para impedir arbitrariedades e corrupção, assegurando, desse modo, os direitos consagrados nos dispositivos constitucionais.

Sem o respeito aos direitos e aos órgãos e instituições encarregados de protegê-los, o que resta é a lei do mais forte, do mais atrevido, do mais astucioso, do mais oportunista, do mais demagogo, do mais distanciado da ética.

Essas considerações, que apenas reproduzem e sintetizam o que tem sido afirmado e reafirmado por todos os teóricos do Estado democrático de Direito, são necessárias e oportunas em face da notícia de que o presidente da República, com afoiteza e imprudência muito estranhas, encaminhou ao Senado uma indicação para membro do Supremo Tribunal Federal, que pode ser considerada verdadeira declaração de guerra do Poder Executivo federal ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil e a toda a comunidade jurídica.

Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional. Por isso é necessário chamar a atenção para alguns fatos graves, a fim de que o povo e a imprensa fiquem vigilantes e exijam das autoridades o cumprimento rigoroso e honesto de suas atribuições constitucionais, com a firmeza e transparência indispensáveis num sistema democrático.

Segundo vem sendo divulgado por vários órgãos da imprensa, estaria sendo montada uma grande operação para anular o Supremo Tribunal Federal, tornando-o completamente submisso ao atual chefe do Executivo, mesmo depois do término de seu mandato. Um sinal dessa investida seria a indicação, agora concretizada, do atual advogado-geral da União, Gilmar Mendes, alto funcionário subordinado ao presidente da República, para a próxima vaga na Suprema Corte. Além da estranha afoiteza do presidente -pois a indicação foi noticiada antes que se formalizasse a abertura da vaga-, o nome indicado está longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país.

É oportuno lembrar que o STF dá a última palavra sobre a constitucionalidade das leis e dos atos das autoridades públicas e terá papel fundamental na promoção da responsabilidade do presidente da República pela prática de ilegalidades e corrupção.

A comunidade jurídica sabe quem é o indicado e não pode assistir calada e submissa à consumação dessa escolha inadequada

É importante assinalar que aquele alto funcionário do Executivo especializou-se em “inventar” soluções jurídicas no interesse do governo. Ele foi assessor muito próximo do ex-presidente Collor, que nunca se notabilizou pelo respeito ao direito. Já no governo Fernando Henrique, o mesmo dr. Gilmar Mendes, que pertence ao Ministério Público da União, aparece assessorando o ministro da Justiça Nelson Jobim, na tentativa de anular a demarcação de áreas indígenas. Alegando inconstitucionalidade, duas vezes negada pelo STF, “inventaram” uma tese jurídica, que serviu de base para um decreto do presidente Fernando Henrique revogando o decreto em que se baseavam as demarcações. Mais recentemente, o advogado-geral da União, derrotado no Judiciário em outro caso, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem decisões judiciais.

Medidas desse tipo, propostas e adotadas por sugestão do advogado-geral da União, muitas vezes eram claramente inconstitucionais e deram fundamento para a concessão de liminares e decisões de juízes e tribunais, contra atos de autoridades federais.

Indignado com essas derrotas judiciais, o dr. Gilmar Mendes fez inúmeros pronunciamentos pela imprensa, agredindo grosseiramente juízes e tribunais, o que culminou com sua afirmação textual de que o sistema judiciário brasileiro é um “manicômio judiciário”.

Obviamente isso ofendeu gravemente a todos os juízes brasileiros ciosos de sua dignidade, o que ficou claramente expresso em artigo publicado no “Informe”, veículo de divulgação do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (edição 107, dezembro de 2001). Num texto sereno e objetivo, significativamente intitulado “Manicômio Judiciário” e assinado pelo presidente daquele tribunal, observa-se que “não são decisões injustas que causam a irritação, a iracúndia, a irritabilidade do advogado-geral da União, mas as decisões contrárias às medidas do Poder Executivo”.

E não faltaram injúrias aos advogados, pois, na opinião do dr. Gilmar Mendes, toda liminar concedida contra ato do governo federal é produto de conluio corrupto entre advogados e juízes, sócios na “indústria de liminares”.

A par desse desrespeito pelas instituições jurídicas, existe mais um problema ético. Revelou a revista “Época” (22/4/ 02, pág. 40) que a chefia da Advocacia Geral da União, isso é, o dr. Gilmar Mendes, pagou R$ 32.400 ao Instituto Brasiliense de Direito Público -do qual o mesmo dr. Gilmar Mendes é um dos proprietários- para que seus subordinados lá fizessem cursos. Isso é contrário à ética e à probidade administrativa, estando muito longe de se enquadrar na “reputação ilibada”, exigida pelo artigo 101 da Constituição, para que alguém integre o Supremo.

A comunidade jurídica sabe quem é o indicado e não pode assistir calada e submissa à consumação dessa escolha notoriamente inadequada, contribuindo, com sua omissão, para que a arguição pública do candidato pelo Senado, prevista no artigo 52 da Constituição, seja apenas uma simulação ou “ação entre amigos”. É assim que se degradam as instituições e se corrompem os fundamentos da ordem constitucional democrática.

Dalmo de Abreu Dallari, 70, advogado, é professor da Faculdade de Direito da USP. Foi secretário de Negócios do município de São Paulo (administração Luiza Erundina).

Fonte: Luis Nassif Online

 

12 thoughts on “Gilmar Mendes na berlinda

  • por esse texto, podemos dizer que Lulalá deve está se sentindo profundamente traído por ele, Gilma Mendes, visto que creditava sua subordinação em razão da indicação ao cargo de ministro.

    Resposta
  • walsil

    Parabéns por trazer aos seus leitores este artigo do mestre Dallari. Já em 2002, o jurista fazia uma “previsão” do que aconteceria com a indicação do Gilmar Mendes a mais alta corte do país. Passado todos esses anos, que só comprovaram o que disse o jurista, a grande mídia (movida por interesses que não se sabe) tenta fazer deste senhor, o dono da verdade única e absoluta, passando por cima de princípios elementares da razoabilidade e do contraditório, fazendo acusações sem nenhuma prova (a única testemunha presente, o desmentiu). A verdade é que o povo brasileiro tem hoje, um oportunidade impar de acabar com a atuação do crime organizado na estrutura do Estado brasileiro (uma das quadrilhas) e esta quadrilha usará de todos os meios legais, mais principalmente ilegais, para se manter corrompendo o Estado brasileiro. É preciso ficarmos atentos.

    Resposta
  • chacon

    Esse Gilmar Mendes é um MAFIOSO.

    Resposta
  • Livia Cmapello

    NADA A COMENTAR.
    VAI ACONTECER O DE COSTUME: LULA CONTINUA “O SANTO” E O GILMAR, COMO É MEMBRO DO ODIADO PODER JUDICIÁRIO, VAI SER O DEMÔNIO DA HISTÓRIA….
    ENQUANTO ISSO, A FUTURA DITADURA PETISTA AGRADECE.

    Resposta
  • Marlene Xuxa

    QUE ABSURDO!!!

    vc posta dizendo que Gilmar Mendes esta na berlinda sobre uma materia de um jornalista Luis Nassif (chapa branca) funcionario do PT, esta na folha de pagamento do governo petista

    Resposta
  • walsil

    Esclarecendo: A matéria não é de Luis Nassif. O artigo, como a jornalista informa, foi escrito pelo jurista Dalmo Dalari para a Folha de São Paulo em 2002 e Gilmar Mendes não foi indicado por Lula, mas por FHC.

    Resposta
    • poderjudiciario

      Verdade. No fim coloco que a fonte é Luis Nassif, significa queo texto foi republicado no blog dele. Fonte é de onde eu tirei o texto. No início tem informando que o artigo é de Dalmo Dallari para a Folha publicado em 2002.
      Obrigada

      Resposta
  • marquinhos

    se gilmar tá berlinha o tal de lula devia estar na CADEIA

    mais um blog a serviço do governo que pais é este?

    Luis Nassif é funcionario do Governo PETRALHA, esta na folha de pagamento do governo PETRALHA

    ei wasil o que foi que lula foi fazer visitando os ministros do superemo hein?

    opção A tomar CACHAÇA
    opção B foi tirar os pecados de GILMAR MENDES PORQUE LULA AGORA É JESUS CRISTO e tem o poder EM NONE DE JESUS KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    opção C foi tentar livrar a cara dos petralhas corruptos e imundos ?

    QUEREMOS O JULGAMENTO DO MENSALÃO E OS PETRALHAS CORRUPTOS ATRAS DAS GRADES

    Resposta
  • Fábio

    Brilhante artigo, parece que a direita golpista não se conforma até hoje!! Claro que Gilmar Mendes tem muito a esconder, por que será que ele deu essa entrevista justamente para revista de menor credibilidade do Brasil (Veja)? É o esquema de sempre: a veja mente, a globo repercute e a Folha confirma. Só não vê quem não quer!

    Resposta
  • walsil

    E o Ministro Gilmar Mendes continua aprontando. Agora, fez declarações atacando a Venezuela, ao afirmar que “aqui no Brasil não é como na Venezuela que o presidente manda até prender juiz”, fato que levou a Embaixada da Venezuela a publicar uma nota repudiando a atitude do ministro. Parece que existe uma determinação do Gilmar Mendes de desqualificar o Supremo, não consigo entender tal comportamento. O STF precisa dá um freio no Ministro, senão…

    Resposta
  • diego_euro

    Tem que mandar prender LULA, isso que ele fez foi ameaça e ameaça é crime previsto no código penal!!!

    Resposta
  • Antônio Muniz

    Se o Advogado, Professor e Ex- secretário de Negócios do município de São Paulo na administração Luiza Erundina, Dalmo Dallari, entendeu, na época, que o Ministro Gilmar Mendes estava desprovido do atributo “reputação ilibada”, exigida pelo artigo 101 da CRFB, para integrar a mais alta Corte de Justiça do Brasil, por que não tomou providência necessárias à obstaculização da prefalada indicação? Não se está fazendo, aqui, a defesa do Mininstro. Ao conmtrário, se tivesse conecimento, à época, de qualquer óbice à nomeação hostilizada, certamente não ficaria limitado a escrever e públicar um artigo. Ir além era, é e será, em qualquer momento, um imperativo da cidadania.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *