26 de abril de 2024
HistóriaPolítica

CAPACITISTA COMO NUNCA ANTES

O pai em cadeira de rodas – Henry Tonks


O tabu de não se tocar no estado de saúde dos candidatos é uma tradição da política brasileira, resistente às campanhas mais acirradas.

Não é o que acontece com a norte-americana, onde especialistas acompanham os mais incipientes sinais de fragilidade dos que disputam votos e o trono máximo.

Qualquer passo em falso do Presidente Biden, vira uma queda.

Quando da bicicleta, o registro ocupa as primeiras páginas de todos os jornais.

João Café,  o primeiro e único presidente que as Rocas deu à República, foi afastado do comando da nação por conta de doença.

No tempo em que infartar era bilhete azul para a aposentadoria por incapacidade física.

Conta o folclore político que o senador piauiense Petrônio Portela, em alta para assumir o Ministério da Justiça do General Figueiredo, soube que o convite não mais seria feito por se encontrar hospitalizado.

Ao visitante e portador do desconvide, mostrou ser um homem destemido, talhado para o cargo.

Que não seja por isso.

Arrancou o soro do braço e deixou o hospital à revelia das ordens médicas.

Só não foi o ungido para disputar as eleições indiretas contra Tancredo Neves, outro alcançado por destino trágico, por conta de  um segundo infarto.
Fulminante.

Foi o semi-ditador equestre quem começou a desmistificar problemas de  saúde como impedimento ao comando do governo, quando enfrentar uma cirurgia de ponte safena era coisa de outro mundo, pra ser feita prá lá de Cleveland.

Único presidente por quatro mandatos, Franklin Roosevelt foi eleito para o primeiro, depois de ter sido Senador e Governador de Nova Iorque, já em  cadeira de rodas.

Conduziu o país na recuperação da grande depressão econômica e durante toda a segunda grande guerra.

À sua deficiência, devem muito, o desenvolvimento da fisioterapia e a criação da vacina contra poliomielite.

Depois de dar tantas chances ao azar e cutucar o cão com vara curta, o Ex-presidente Trump trouxe a questão para o centro da disputa política mais acompanhada do mundo.

Não capitulou à  humilhante maca, dispensando também o helicóptero-ambulância.

No auge da pandemia foi  se internar com roupa que poderia usar na posse para o segundo mandato.   Sem esquecer a maquiagem.

Há cinco anos, uma facada pública e filmada por muitos ângulos, no bucho de  um candidato, foi atestado de dispensa aos debates.

Garantiu o improvável segundo turno e a vitória final do azarão, contribuindo para mais um daqueles mistérios que serão arquivados na mesma pasta com as provas que Elvis não morreu.

Deva-se a  Floriano Peixoto e a  fé inabalável nos vices,  o esquecimento dos prontuários médicos dos mandatários brasileiros.

Operado do quadril, o presidente Lula, aproveitou e deu um up no rosto, mas  preferiu ser chamado de capacitista, a aparecer em público em cadeiras de rodas ou amparado por charmosa bengala.

Mas quem danado quer saber de capacitismo no país do identitarismo?

O pequeno inválido – Henry Tonks

N. do R.

1. Henry Tonks (1862/1937)  foi um cirurgião britânico e mais tarde desenhista, caricaturista  e pintor. Ele se tornou professor de arte e um dos primeiros artistas do Reino Unido a ser influenciado pelos impressionistas franceses (Wikipédia)

2. Este texto contém partes de ‘Saúde que não interessa”, publicado em  12/10/2022

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