1 de maio de 2024
Memória

POLTERGEIST NO AGRESTE

A aparição (1885) – James Tissot – Obra julgada perdida, foi exibida em 2019/2020 no Museu da Legião de Honra, em São Francisco. Coleção particular


Casas mal-assombradas existiam em tudo que era lugar. Quanto mais abandonadas, mais habitadas pelos entes misteriosos.

Casos tão horripilantes que as notícias se espalhavam, as cidades levavam fama e o medo virava negócio lucrativo, explorado até os dias de hoje.

Curiosos  interessados em mistérios fazem do turismo do terror,  oportunidade de ocupação e renda para os espíritos encarnados.

Quando  católicos perseguidos, fugidos do Canadá, encontraram os negros das colônias caribenhas na cidade fundado por franceses, New Orleans virou o cadinho onde as culturas se misturaram na culinária, artes, música, religiões e superstições.

Estórias contadas, recontadas, repetidas e romanceadas, fazem da antiga capital da Luisiana a mais mal-assombrada do mundo.

No Recife, outra metrópole miscigenada, as crendices e os cultos africanos, deram  tantas estórias de arrepiar os cabelos, que Gilberto Freyre publicou, há quase 70 anos, Assombrações do Recife Velho.

São 27 casos, inexplicáveis pela ciência e que causaram medo em  quem teve a  coragem de se aventurar por  passeio noturno pelas águas do Capibaribe a bordo do catamarã assombrado, onde eram contadas e mostrados os locais das estórias sobrenaturais.

Na mesma rua grande, na confluência dos rios Bujari e Curimataú, em épocas distintas, dois casos permanecem à espera de explicação de um Padre Quevedo ou do Detetive do Fantástico.

No casarão dos Torres,  imponente mansão em estilo neoclássico, pratos, copos  e tudo que ficada sobre as cristaleiras saiam voando e se espatifavam pelas paredes.

Luzes e barulho que poucos arriscavam, ou tinham desassombro para ver ou ouvir de perto

O fenômeno durou semanas.

Resistiu às rezas, rezas fortes, novenas, incensos, benzidos e unções e a qualquer outro método que alguém indicasse.

Dizem que só desapareceu quando uma jovem empregada doméstica da família,  recebeu o bilhete azul.

A poucos metros da igreja matriz, numa pequena casa, onde moravam as Pinto, irmãs solteironas, devotas da Irmandade das Filhas de Maria, toda noite, em horário regular, chovia.

Sem nenhum preparo do tempo ou nuvens no céu, lá vinha a chuva.

De sapos.

Em grande quantidade.

De uma espécie que ninguém jamais tinha visto  e sem classificação na taxonomia de Lineu.

Nas casas vizinhas e conjugadas, nenhum registo dos arrepiantes batráquios.

Não teve exorcismo nem troca de caibros e telhas que desse jeito.

Esses fenômenos não têm sido mais registrados e há controvérsias por quais motivos.

Mudanças climáticas (sempre elas) e melhor iluminação são hipóteses prováveis.

Na Universidade da Transilvânia em Brașov, Romênia,  uma pesquisa  comprovou que  as entidades do além são avessas às modernidades tecnológicas.

Smartphones e suas câmeras de alta resolução, inibem os espíritos brincalhões.

 

A Visão de Zacharias (1894) – James Tissot – Museu do Brooklyn, Nova Iorque


(Este texto apareceu pela primeira vez em 18/09/2019)

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