UMA MULHER MAIS RECATADA
Não foi fácil a vida sob holofotes, alvo permanente das atenções, nos primeiros dois anos de governo.
Mesmo que soubesse que nunca estaria no epicentro, muito bem ocupado por quem não arreda o pé, nem que a vaca cante funk. Ou seja ameaçado de impeachment.
Com a pandemia, cumpriu com disciplina de monastério, o distanciamento dos microfones e da maior de todas as polêmicas. Deixou para os cientistas e outros colegas de ministério, as opiniões e pensamentos próprios sobre epidemiologia, terapêutica e prevenção de doenças infecto-contagiosas.
Havia aprendido. O que todos pensavam e falavam, quando dito por ela, ia direto para as capas dos jornais. Dava em todos os blogs. Virava trending topic.
Filha de pastor, ela mesma pastora neo-pentecostal, exerceu seu ministério na Igreja da Lagoinha e na do Evangelho Quadrangular.
Advogada, defensora dos direitos dos descapacitados, foi assessora parlamentar em Brasília, por mais de vinte anos.
Auto-reconhecida, mestra em várias áreas do Direito, com títulos concedidos pelo Velho Testamento. E sem firmas reconhecidas.
Até quando não falava, provocava reações desmedidas.
Sua mudez performática no púlpito de uma coletiva, deixou uma dúzia e meia de repórteres atordoados. Ninguém lembrou que o silêncio vale ouro.
Pela reclamação histriônica, foi socorrida por Bernard Shaw :
O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo.
Até o que é aceito no catecismo, quando repetido pela ministra da palavra, era ridicularizado.
Se Deus está em todo lugar e a Santíssima Trindade é dogma, por que o filho unigênito não pode ser encontrado também no alto de uma árvore frutífera, uma goiabeira?
Por que tanto espanto com o refrigério de uma alma atormentada?
Quem já foi a alguma festinha familiar para adivinhação do sexo da criança, nas torcidas uniformizadas em cores, sabe muito bem quem vai vestir azul e quem vai vestir rosa. E até quem vai ter baile de debutante.
Duvidaram até das suas observações anatômicas.
Sexo virou coisa de esquerda.
No que toca ao masculino, as estatísticas sobejamente comprovam a observação.
Só não se sabe ainda, se a preferência é consequente às posições assumidas pelos jacobinos na Revolução Francesa.
Bastou a afirmação comezinha que abstinência sexual previne gravidez, para emprenharem pelos ouvidos.
Não dá nem pra imaginar se o Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos defendesse como políticas públicas, outros métodos anticoncepcionais.
Já pensou se a ministra-pastora tivesse procurado inspiração bíblica no que foi empregado (e descrito com detalhes, na santa escritura), pelo filho de Judá, segundo esposo da viúva Tamar?
O destino de Damares estaria nas mãos de Onan.
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(A ministra, em férias, volta ao noticiário por ter sido diagnosticada ontem, com a variante Ômicron.
O texto contém informações publicadas neste TL em 12/12/2020)