27 de abril de 2024
CoronavírusGUERRA

VACINA ATÔMICA

 

F296944B-6D4C-473D-8FA1-4CA0095CA0A6
Cabeza de caballo, esboço para Guernica


Quando ficou claro que a pandemia não seria contida com medidas curativas,
as esperanças do mundo se voltaram  para os países mais ricos e evoluídos em tecnologia.

A única solução seria a vacina desenvolvida por eles.

Que custava muito dinheiro, e precisava de mais  tempo para testes de eficácia e segurança.

Não seria coisa de rico, exclusiva para os afortunados.

O que saísse das mesas e bancadas de pesquisas dos cientistas patrocinados por barões miliardários, teria de chegar aos lares e casebres dos aldeões mais humildes.

De pouco adiantaria se as nações mais pobres não fossem também imunizadas. O mal não teria controle.

O mar azul a ser desbravado, era  um só.

Uma corrente, com elos perdidos, não conseguiria remover a imensa pedra do meio do caminho onde passariam fariseus e publicanos.

As ondas de contaminação vieram como as do mar.

Não pararam  de quebrar numa praia, só porque  em outras, encontrava resistência.

O instinto humanitário e a oportunidade de mais lucros, haviam sido despertados pelas maiores empresas do mundo.

Logo,  um consórcio estava formado com bençãos e participação da Organização Mundial da Saúde.

Reunidas, as Big Five, as maiores empresas, com aparelhos Apple, sistemas Microsoft, onisciência Google, onipresença Facebook e logística Amazon, formavam um dream team como nunca visto antes neste planeta.

Um exclusivo clubinho de 3 trilhões de dólares.

Sentados nesta montanha de dinheiro, mas usando o do Tio Sam, os mais sábios cientistas abreviaram a longa espera.

O pesadelo foi despertado pelos apitos das gigantes farmacêuticas, que encheram o mundo de confiança, e os cofres, de lucros.

A sequência de peças caídas neste terrível dominó não produziu o efeito mosqueteiro solidário,  de todos por todos.

Mais uma vez, depois dos ricos, vieram os remediados.

Os carentes de sempre, nem as sobras das migalhas da imunidade,  têm recebido.

Dois anos depois do seu início, a vacinação, em alguns países africanos, não conseguiu alcançar ainda, nem os trabalhadores da saúde, nem os mais vulneráveis.

A crença  que as doses de meio miligrama nos braços de todos, fariam o mundo mais igual e solidário, não resistiu ao primeiro conflito entre vizinhos, na primeira aurora, do primeiro dia do novo normal.

A percepção que a vida pode fluir ao lado dos invasores invisíveis, não se repete na diplomacia, fazendo ressurgir outro medo, que parecia  esquecido nos depósitos dos armamentos de guerra.

Para a peste nuclear, ainda não há vacina.

BD7D36A0-E23D-4D58-9AF6-D9B254EDE36E
Guernica (1937) – Pablo Picasso – Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *