27 de abril de 2024
Memória

Relembrando Lauro Arruda Câmara

Lauro Arruda Câmara (09/10/1912 – 24/07/1996)


* Valério Mesquita

 

Ao falecer, o ex-deputado Lauro Arruda Câmara deixou ainda mais pobre o patrimônio vivo do PSD dos velhos tempos.

No seu velório na Assembleia, conduzido por Leonardo, fui conhecer Aguinaldo Simonetti, um dos últimos remanescentes da época áurea e romântica da política potiguar.

Lauro integrava ao lado do major Theodorico Bezerra, Israel Nunes, Alfredo Mesquita, Túlio Fernandes entre outros, o partido majoritário, o rolo compressor que dominou por quase 15 anos a vida política e administrativa do Estado.

O seu desaparecimento emprestou a todos nós uma sensação de vazio nesse universo perdido, onde os momentos passados se fundem numa serena ausência, feliz e plena, através do sentimento dos filhos, orgulhosos do seu exemplo.

O homem e o nome jamais se dissociam do seu tempo.

Lauro foi o homem do seu tempo.

Da sua região, de Nova Cruz.

Vê-lo era contemplar uma legião de novacruzenses. Ele era a foto, o embaixador, o representante e D. Joanita era a alma de Nova Cruz.

Lauro foi o parlamentar telúrico e emocional do tipo que exprimia o perfil ou a cara do seu município ou de sua gente.

Foi uma espécie que se extinguiu.

O político daquele tempo tinha a capacidade de reinventar o fluxo virtual de sua atividade, assumindo contornos de um lirismo inaugural.

Lauro personificava os tempos idos e vividos no seu Agreste, consumados com tanta generosidade e autenticidade de espírito, com tanta sensação de perfazer a aventura da vida com grandeza interior, que diante de sua morte, não podia deixar de proclamar que “era feliz e não sabia”. Isso porque todos nós, que fomos políticos, sentimos um verdadeiro fascínio pelo tempo dos nossos pais.

Dessa geração, conheci representantes do povo que tinham no semblante e nos gestos, o sentido e o rumor do humano, da paisagem e do tempo. Eram assim, como o octagenário Lauro, a síntese e fascinação de horas vividas e profundas.

Os pessedistas eram dotados de poderes mágicos catalisadores e irradiadores das emoções e mistérios da política.

Cassiano, Leonardo e eu conhecíamos e convivíamos meninos com a magia desse universo.

Hoje, sepultamos os nossos mortos na sonhadora tentativa de recompor os gestos, mas sem deixar de ouvir as mesmas canções eternas.

Nos arquivos superpostos do tempo, ficam guardados todos os passos de Lauro Arruda.

Nova Cruz a terra adotiva e dadivosa, modelada pela tristeza, foi vê-lo na tarde cinza do seu sepultamento.

E como deve ter sido lembrada D. Joanita, seu anjo da guarda verdadeiro e permanente!

João Goulart, Lauro Arruda e Juscelino Kubitscheck – Mossoró, 1955

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